ENTREVISTA ESPECIAL : Pery Ribeiro

A grandiosidade da Bossa Nova

Pery Ribeiro, filho de Dalva de Oliveira e Herivelton Martins, comemora 50 anos de carreira e tem atuação ímpar à frente do gênero

Um dos cantores mais importantes do movimento Bossa-Nova e o primeiro a gravar Garota de Ipanema. Assim é Peri de Oliveira Martins, ou apenas Pery Ribeiro, filho da famosa cantora Dalva de Oliveira e do compositor Herivelto Martins.  Pery, que passou a adotar o nome artístico nos anos 50 por sugestão do radialista César de Alencar, está em evidência no momento devido aos seus trabalhos elogiadissimos no exterior e também principalmente a minissérie “Dalva & Herivelto” que a TV Globo exbirá agora em janeiro e que contará um pouco sobre a vida e relacionamento amoroso da cantora Dalva de Oliveira e o músico Herivelto Martins. Sem dúvida, uma ótima oportunidade para também conhecer um pouco sobre Pery Ribeiro, esse excelente cantor e compositor brasileiro.

Pery nasceu em 27 de outubro de 1937, no Rio de Janeiro e foi crescendo rodeado de música. Com apenas três anos, já participava de dublagens para os filmes da Disney no Brasil. Em 1941, com quatro anos, se apresentou no Teatro Municipal do Rio e, em 1944, atuou no filme "Berlim na Batucada", de Luís Barros. Em 1959, trabalhando na TV Tupi (RJ) como câmera-man, foi convidado para participar do programa de Paulo Gracindo na Rádio Nacional. Em 1960, sua mãe gravou sua música Não Devo Insistir, parceria de Ribeiro com Dora Lopes. No mesmo ano gravou seu primeiro disco. E logo se aproximou da bossa nova, que começava a despontar.

Em 1961 foi o intérprete de Manhã de Carnaval e Samba de Orfeu, ambas de Luiz Bonfá e Antônio Maria. Com Luiz Bonfá gravou o LP Pery Ribeiro e Seu Mundo de Canções Românticas, um estilo sempre presente em sua carreira. De seus relacionamentos com a bossa nova surgiu a primeira gravação de Garota de Ipanema (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes), feita em 1963, no disco Pery é Todo Bossa, pela Gravadora Odeon, e cerca de 12 discos dedicados a esse repertório. Desenvolveu trabalhos  mais jazzísticos, em 1965, ao lado de Leny Andrade e Bossa 3 (com quem obteve sucesso na gravação ao vivo do show "Gemini V"), viajando pelo México e Estados Unidos, onde atuou também ao lado do conjunto de Sérgio Mendes. No decorrer de sua carreira chegou a gravar também discos em parceria com o pianista Luiz Eça.

Entre os 50 troféus e 12 prêmios que ganhou, estão o Roquete Pinto, o troféu Chico Viola e o Troféu Imprensa. Foi apresentador de programas de televisão e participou de alguns filmes no cinema nacional. Sua notoriedade é tão grande que em 2003 Pery foi homenageado pela Fundação Relief for Life Foundation, de Miami Beach - Florida, que tem como missão doar equipamentos médicos e Cadeiras de Rodas aos deficientes fisicos pobres na América Latina. Sem dúvida, uma grande homenagem a esse grande cantor.

Apesar da mídia não dar um espaço merecido a bossa nova, Pery continua se apresentando em shows, trabalhando como empresário e lançando CDs de qualidade. Assim foi nos anos 90 e em 2000.  Nos últimos anos, ele excursionou pela Europa se apresentando em importantes festivais de Jazz, ao lado de nomes como George Benson, Herbie Hancock, Pat Metheny, Ernie Watts e Keith Jarret. Seu último trabalho foi  o CD Cores da minha Bossa, que foi gravado entre Rio e Miami (onde o cantor reside) e lançado nos EUA e no Brasil. O trabalho conta com as participações de  Arturo Sandoval, Roberto Menescal, Ed Calle, Rildo Hora e Leo Gandelman.

Para falar sobre os 50 anos de carreira e os projetos que tem em mente sobre Dalva e Herivelto, trouxemos para o MVHP Pery Ribeiro. Confira a entrevista abaixo !

Site: http://www.peryribeiro.com.br

Marcus Vinicius Jacobson

Reportagem

Entrevista publicada no dia 28/12/2009

1) Qual o balanço que você faz de sua vasta carreira até aqui?

Ah, um balanço mais do que positivo... Fui sempre muito abençoado, participei do mais importante movimento musical desse país, a Bossa Nova, me tornei um artista que chegou aos mais longínquos palcos do meu país e ainda tive a oportunidade de levar o meu canto e a música brasileira mundo afora, tendo trabalhado nos mais importantes palcos do mundo, como o Carnegie Hall, em New York, para citar um exemplo.

2) Ser filho de 2 estrelas da música brasileira de todos os tempos em algum momento exerceu alguma pressão em sua carreira ?

Com certeza, não tem como dizer que não, esta cobrança é natural. Todo filho de artista a enfrenta. A comparação é que, as vezes pode incomodar, pois cada um é único em sua arte e em sua personalidade. Nunca tive a pretensão de ser como meus pais, apenas me foquei em construir a minha própria carreira, inclusive enveredando por diferentes caminhos musicais, como a Bossa Nova, importante movimento musical do qual sou um dos mais fiéis representantes. Tenho muito orgulho de ser filho de Dalva de Oliveira e Herivelto Martins, e sempre direcionei a minha carreira para fazer juz a esta especial herança musical.

3) Fale um pouco sobre seu último trabalho lançado.

Os meus mais recentes trabalhos foram o CD “Cores da minha Bossa” que foi gravado entre Rio e Miami e lançado nos EUA e no Brasil, onde tenho a participação do extraordinário trumpetista cubano, Arturo Sandoval, além de Roberto Menescal e Rildo Hora. E também o projeto especial, “S’ WONDERFUL – MOVIE’N BOSSA” dedicado a releitura de clássicos do cinema em clima de Bossa Nova.

4) Você é um artista que transita entre a Bossa Nova e a MPB. Você vê diferença entre esses 2 gêneros ou o que você faz é um trabalho único ?

De uma certa forma tudo pertence ao mesmo universo: o da música de qualidade. A Bossa tem um samba diferenciado, com uma influência jazzística e é interpretada em tonalidades mais baixas. A MPB é mais eclética e engloba mais vertentes musicais e diferentes comportamentos. São nuances de interpretação, sendo que a Bossa Nova ficou mais ligada a um repertório criado nos anos 60. Depois disso muito pouco se fez, e foi exatamente por isso que o movimento não se renovou, ou expandiu mais, por ser muito fechado.

5) Qual sua análise sobre a música brasileira atual ?

O cenário atual é de transição, com a industria fonográfica sofrendo muito com a pirataria, e nós, artistas, inseguros e de certa forma paralisados diante desta indefinição de mercado. Mas isto não é problema somente no Brasil, é mundial. E tem obrigado os artistas a reinventar o seu trabalho, assumindo mais o comando de suas carreiras, buscando espaço nas novas mídias: internet, youtube, redes sociais, etc.

6) Seu trabalho tem uma boa penetração no exterior. A que você atribui essa repercussão em terras estrangeiras ?

Ao grande alcance que a Bossa Nova conquistou no mundo, abrindo uma grande porta para a música brasileira de qualidade. E também porque o músico de jazz americano se apaixonou pela Bossa Nova e passou a interagir com a nossa música, mantendo esta chama acesa. 7) Quais seus principais parceiros dentro da música ? Como intérprete, posso citar a cantora Leny Andrade, com quem desde os anos 60 tenho uma grande empatia no palco. Como compositor, tenho grande identificação com a obra de Roberto Menescal e Ronaldo Boscoli, da qual sou considerado um dos mais dedicados intérpretes, tendo sido o primeiro cantor a gravar dessa dupla as canções “Barquinho”, “Voce”, “Rio”, “Vagamente”, “Nós e o mar”, entre muitas outras.

8) Você já estrelou alguns filmes e peças teatrais ao longo do tempo. Quais as principais diferenças que notou entre atuar e cantar ?

São universos diferentes, claro, mas os dois exigem as mesmas ferramentas: sensibilidade, criatividade e muita disciplina.

9) Quais os seus próximos passos dentro desse cenário musical ?

Estou comemorando 50 anos de carreira, e para comemorar a minha trajetória, resolvi dedicar um trabalho aos meus pais, um tributo musical a Dalva e Herivelto. Ao sermos surpreendidos com a inciativa da TV Globo em dedicar uma minisserie a vida e carreira de meus pais, este trabalho ganhou ainda mais visibilidade, despertando grande interesse na mídia e no público. Estarei dedicando 2010 a este show em homenagem a Dalva e Herivelto.

10) Deixe um recado para seus milhares de fãs espalhados pelo país afora .

Quero agradecer o carinho com que sempre me presentearam e dizer que não percam a minissérie “Dalva & Herivelto” que a Globo apresentará na primeira semana de janeiro, pois muito se emocionarão com esta história de amor.

VOLTAR | ATUALIZAR | AVANÇAR