ENTREVISTA ESPECIAL: Leo Jaime

Uma volta que vai marcar gerações

Leo Jaime prepara seu retorno à música com novo CD que será lançado em breve


Léo Jamie: O roqueiro está de volta!

Mentor do rock engraçadinho carioca. Autor de impagáveis versões de sucessos do rock americano. Esse é Leo Jaime. Quem não se recorda de alguns de seus maiores sucessos da década de 80, como As Sete Vampiras, Sessão da Tarde, Gatinha Manhosa, Conquistador Barato, Sônia e Rock da Cachorra ? É difícil não lembrar. Essas músicas estão presentes até hoje na mente das pessoas que vivenciaram aquela época. Mais de 10 anos depois de seu som ter estourado no país, o eterno roqueiro dos anos 80 aproveita o resgate do rock nacional e prepara um novo CD para voltar em grande estilo. Talento ele tem de sobra.

Durante esse período em que ficou afastado da mídia, Leo Jaime continuou carregando o título de cantor. Porém, pouca gente sabe que ele é muito mais que isso. Leo, 41 anos, joga nas onze: tem uma carreira consolidada no jornalismo, escreve para a tevê e teatro, atua, canta, dança, faz trilhas musicais e joga bola no time do cantor Chico Buarque. Haja fôlego para dar uma de coringa, mas como diz o recém-famoso ``Bam Bam``, faz parte.

Leo deixou muitos fãs por aí saudosos e sedentos por sua volta. Apesar disso, o roqueiro não deixava eles na mão e, por muitas vezes, realizava shows por onde era requisitado. Para quem não conhece a história do cantor, é sempre bom recordar.  Leo Jaime, que se caracterizava pelo visual "rockabilly", com topete e jaquetas de couro, foi integrante do grupo João Penca & Seus Miquinhos Amestrados, de onde saiu para seguir carreira solo. Suas músicas representam o rock'n'roll básico. Também fez algumas participações como ator em novelas, e seus principais discos solo ("Sessão da Tarde" e "Phoda C") foram relançados em CD.

Nós não poderíamos ficar de fora nesse seu retorno à mídia e realizamos uma super entrevista com o roqueiro que marcou gerações. Nesta entrevista  para o MV Portal de Cifras, ele conta por onde andou nos últimos anos, o que fará nos próximos meses, e tudo sobre seu novo CD que está preparando.

 

SITE OFICIAL -> http://www.leojaime.com.br

Marcus Vinicius Jacobson

Reportagem

Entrevista publicada no dia 09/06/2002

1) Léo, a geração dos anos 80, embalada com a volta de grandes bandas como RPM, Plebe Rude entre outros espera seu retorno aos palcos. É verdade que você está voltando ao cenário musical de nosso país e preparando um novo CD para consolidar isso?

É verdade! Estou preparando o repertório do disco novo que deve ser gravado na metade do ano. Estava com saudades de gravar e pensava que essa parte da minha atividade profissional estivesse encerrada. Em todo o caso farei como fiz da última vêz. Vou gravar cada disco como se fosse o último.

Leo durante os anos 80

2) Se você voltar será pra valer ou vai depender de como será a receptividade do seu trabalho para prosseguir?

Não posso dizer que será pra valer no sentido de não continuar todas as atividades que exerço, que são atuar e escrever, além de cantar e compor. Acho que essa multiplicidade é uma caractarística minha. Gostaria muito de ter estabilidade nas minhas atividades, ou seja, mesmo atuando em várias coisas seguir continuamente em todas elas. Ninguém precisa fazer shows o ano inteiro, então posso alternar com peças os períodos de recesso musical, e manter-me colaborando para jornais, revistas essas coisas enquanto faço essas outras. Se bem que a televisão me pareceu um bom caminho para quem tem esse perfil multifacetado.

3) Qual fator preponderante para que você deixasse a música de lado, e optasse por outros caminhos como a carreira de jornalista e ator?

No cerne da questão estava a insatisfação em me adaptar ao que o mercado chamava de “segmentação”. Sempre pensei na carreira musical como a de cineasta. O Stanley kubrick filmou “laranja Mecânica” e em seguida “Barry Lindon”. Isso me era muito atraente, poder alternar, fugir dos caminhos já trilhados, experimentar e contar história que fossem interessantes sem pensar em coerência ou mesmo em manter fidelidade a algum ritmo. Nunca me interessei por ritmos em especial, mas sim por melodias e letras. Ser rock, mpb ou pop é igualmente limitador. Quer dizer, não me importo que me chamem disso ou daquilo, que me incluam em alguma prateleira na loja, mas não gosto de ter que pensar na hora de escrever que preciso estar atrelado a alguma batida ou estilo. Sempre gostei de liberdade e sou um escritor por trás de um cantor. Preciso contar alguma história interessante.

5) Mesmo sem gravar discos durante todo esse tempo você continuou a realizar seus shows por aí que fizeram muito sucesso. Como é essa sensação de ter a chance de cantar sem depender de uma gravadora?

É a tal da liberdade. Posso montar o show que quiser, no estilo que quiser, embora a grana seja sempre curta e a produção enxuta. O texto é livre, e posso fugir dos modelos de mercado. Por exemplo: não preciso ter piercing, tribal, pintar o cabelo de azul ou andar fantasiado de roqueiro. Não preciso me carnavalizar para atender a uma demanda de mercado de um público determinado que prefere uma estética determinada por um canal de TV por cabo.

4) Depois de 1990 você deu uma parada e voltou 5 anos depois com o álbum Todo Amor que marcou sua despedida na carreira. Você considera esse o seu  predileto? Por que?

Eu adoro ouvir esse disco. Gosto das canções, dos arranjos, da sonoridade. Acho que comecei a buscar uma sonoridade mais madura em “Vida Difícil” e esse processo durou até esse disco. O fato de ser um disco de intérprete me possibilitava isso. A turma que fez o disco comigo era maravilhosa: Lulu, Memê, Liminha, Fábio Fonseca, Ricardo Palmeira, Marcos Suzano, Felipe Abreu, Marcelinho Martins, Christian Oyens e sobretudo a Marina Lima, que me ajudou muito a pensar o disco, a escolher o repertório. Gosto de coisas feitas em coletivo, sou um indivíduo que prefere a atuação coletiva. Gosto muito do “Sessão da Tarde” também. O melhor ainda está por ser feito...

O roqueiro promete reviver com maestria os anos 80

6) Qual sua opinião sobre a atual safra do rock nacional? Você vê em alguma banda de hoje alguma identificação das dos anos 80?

A minha banda predileta das que estão atuando, e que não começaram nos 80, é o Skank. O curioso é que eles me destestam, o que me deixa mais confortável para admirá-los e curtir o seu som. Não há tietagem nenhuma nisso ou “lobby”. Eu gosto deles e acho ótimo que me detestam. Dizem que o seu sucesso pode ser medido pela grandeza de seus inimigos. Não tenho inimigos, mas sei que grande parte das pessoas pode não ter nem a noção de que eu existo. Principalmente no cenário artístico, no qual as amizades são muitas vêzes marcadas por conveniências profissionais. Não gosto de gente que tem “atitude”, em geral. Essa pose de mau, machista, arrogante e narcisista chamada de “atitude” é um grande retrocesso. Depois de Cazuza e Renato Russo pensar em vanguarda machista e desarticulada é retrocesso. Trabalhamos com cultura, sabe como é. É preciso ter a visão histórica do que está acontecendo e do que se produz. Não dá para ficar só atendendo aos clichês do “segmento”. Quer apostar como uma banda de reggae vai, a uma certa altura, colocar um rap “ de protesto” com uma interpretação marcada por um sotaque levemente “jamaicano”? Pois é, é fácil prever. Isso é o que torna chato: a previsibilidade.

7) Como você está vendo o pouco espaço que as gravadoras dão para os novos talentos da música brasileira e ao mesmo tempo um espaço enorme para o lixo cultural? O jabá fala mais alto nessas horas?

A indústria cultural depende de produtos assim: cuja certeza de massificação pode ser antecipada. Dá para se fazer música como “slow food”, seja regional ou internacional, mas temos que admitir que a “fast food” será sempre mais rica em investimentos. De alguma forma o povão engole o sanduba americano com frequência, mesmo não descartando o arroz-com-feijão tipicamente nacional.

O cantor em um dos momentos de folga

8) Ano passado você contracenou com Marília Pera na comédia musical Vitor e Vitória. Qual a diferença ao cantar com uma banda, em um show, e cantar acompanhado de uma orquestra, no palco do teatro?

Cantar com uma orquestra é muito melhor. Mesmo que exista uma banda. A textura dos sons acústicos, dos violinos e metais, a grande massa musical que pode ser de uma delicadeza enorme aumenta muitos as cores na sua palheta. Dá para atingir matizes muito mais interessantes. Cantar em um musical é muito gostoso, há uma cena para contextualizar a canção, há o cuidado teatro com a cena, o cenário, a luz, a contracena. Trabalhar com Marília foi a coisa mais divertida e enriquecedora que já me aconteceu nos palcos. E o Guga Petri e o Miguel Briamonte, os maestros, são craques. Foi muito bacana, pena que acabou agora no final de março.

9) De onde vem a inspiração das músicas que marcaram sua carreira e que o público vira e mexe sente falta?

Sou um cronista. Meu trabalho é observar os anacronismos, as curiosidades do dia-a-dia, e apontar isso depois em uma canção ou crônica ou na construção de algum personagem. Há semrpe esse cronista por trás de tudo. Isso é o que me confere alguma originalidade, ou melhor, singularidade. Originalidade é o pior defeito que um artista pode ter.

10) Deixe uma mensagem final para seus fãs e para aquelas pessoas que ainda não conhecem seu trabalho de perto.

Visitem o meu site, escrevam, convidem para apresentações, shows etc. Preciso trabalhar para viver e ser feliz. E fico muito feliz em saber que o meu trabalho pode provocar algum tipo de alegria ou contentamento. Isso é um alimento. E retribuo a generosidade dos que me apoiam com muita dedicação e profissionalismo. Acertar e errar fazem parte. Permanecer junto dos que a gente gosta é que é a vitória.   Abração!

VOLTAR | ATUALIZAR | AVANÇAR