ENTREVISTA ESPECIAL: Lampirônicos

Lampirônicos iluminam novo pop baiano

Banda de Salvador inova com mistura musical e já é sucesso em todo país


Lampirônicos: A nova revelação do Pop Baiano

Fazer sucesso tocando rock na capital do Axé Music pode parecer difícil, mas para os Lampirônicos isso não é surpresa. A banda é uma das mais novas revelações da música nacional. O som desse sexteto é envolvente e mistura guitarras pesadas e bateria com levadas dance e zabumba, juntamente com linhas de baixo que passeiam entre o regional, o pop e o eletrônico. Misturar baião e xote é uma das características desse grupo que acredita na "força da luz espiritual, do cangaceiro do Nordeste". Para eles, a mistura de ritmos faz parte do brasileiro que é miscigenado na sua essência.

A banda se formou em Salvador no ano de 1998 (com um show no projeto Julho). Daí em diante se apresentam para públicos cada vez maiores. Em novembro de 1999, conseguiramm iniciar as gravações de seu primeiro CD de forma independente.  Após uma fase mais fértil de ensaios, estreiaram uma temporada na boate Off Club, em Maio de 2000. Em Fevereiro de 2001, veio a resposta desse trabalho dedicado. O grupo assina contrato com a gravadora Sony Music, uma das mais destacadas mundialmente, para lançar o CD "Que Luz é Essa?" em outubro do mesmo ano.

Vale lembrar que antes de estourarem, os Lampirônicos deram uma parada estratégica após cerca de um ano de atividade, e ressurgiram com uma formação diferente. Hoje o grupo conta com Nikima (vocal), Bau Carvalho ( guitarra e sampler), Robertinho Barreto (guitarra e guitarra baiana), Ordep Lemos (bateria), Luciano Vasconcelos (baixo) e Robson de Almeida (percussão). Por falar no guitarrista Roberto, sua amizade com Carlinhos Brown pesou muito para que o cantor fosse o padrinho da banda que, além disso, conta com elogios de músicos consagrados como Alceu Valença, Lobão, Roberto Frejat, Lenine, entre outros.

A trajetória dos Lampirônicos está sendo vitoriosa. Depois de conquistar o povo baiano, o grupo começa a ter o trabalho bem reconhecido em dois eixos importantes do país: Rio-SP. Isso sem falar em outras regiões brasileiras, onde a banda já possui uma legião de fãs. Prova desse fenômeno de popularidade é a indicação que esses seis membros receberam como "grupo revelação", no Prêmio Multishow de Música Brasileira 2002.

Os Lampirônicos estão a todo vapor divulgando seu primeiro e vitorioso CD na carreira, que conta com 14 faixas e participações especiais como a de Carlinhos Brown, Alceu Valença e Dominguinhos. Podemos destacar as faixas Pop Zen, e Que Luz é Essa (Raul Seixas), que são as mais executadas nas rádios de nosso país. Estivemos reunidos com o grupo para que eles contassem um pouco mais sobre a carreira, projetos e o novo álbum. Confira na íntegra essa entrevista e saiba porque os Lampirônicos chegaram com tudo pra iluminar o cenário da música popular moderna do Brasil.

 

SITE OFICIAL -> http://www.lampironicos.com.br

Marcus Vinicius Jacobson

Reportagem

Entrevista publicada no dia 02/07/2002

A banda posando para foto do primeiro CD

1) Qual o momento em que vocês realmente sentiram que estavam no caminho certo ao criarem o Lampirônicos?

O momento que a gente realmente sentiu que estava no caminho certo foi quando fizemos o primeiro show com a atual formação, em Maio de 2000. Sentimos que aquelas pessoas estavam sintonizadas em torno de um pensamento e que isso ficou muito claro para o público. Naquela noite, aconteceu uma catarse na platéia que a gente nunca mais vai esquecer. E no final do show, a sensação que tínhamos nas conversas era de que aquele pensamento tinha ganhado vida e não tinha mais volta, era só trabalhar que conseguiríamos gravar nossas músicas, tocar para mais pessoas ... enfim, que pelo nosso trabalho seríamos reconhecidos.

2) Por que o nome da banda é Lampirônicos? Fale um pouco das influências que vocês sofrem de outros músicos.

Lampirônicos foi uma tentativa de sintetizar algumas idéias. Originalmente seria a corruptela para Lampiões Eletrônicos, candeeiros a laser, uma ferramenta vernacular de iluminação alimentada pela tecnologia contemporânea. Daí derivam-se outras interpretações, a força do cangaceiro, a ironia ... De qualquer modo se refere a um estado de conexão, uma interface ... a luz elétrica que vira luminosa, ou a Luz espiritual que vira vibrações positivas, por exemplo. Quanto às nossas influências é difícil falar delas sem ressaltar que somos seis cabeças que possuem cada um suas próprias influências, e vivemos num lugar que por si só é um caldeirão de expressões, de variações e desigualdades que é Salvador. Esses fatos já abrem um leque enorme de influências, mas podemos com certeza focar na música brasileira, dos grandes como Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga e João Gilberto, Raul Seixas e Gilberto Gil, Elomar e Tom Jobim. E também o rock mundial, clássico como Beatles e Led Zeppellin, e contemporâneo como Supreme Begins of Lesure e Prodigy. Todos esses que foram citados são exemplos peculiares de dedicação à música e a seus métodos de criação e perpetuação.

3) Como a banda encara a comparação do trabalho de vocês com o de Chico Science, que para muitos foi o que de melhor aconteceu para a música brasileira nos anos 90?

Pra gente é um muito legal ser citado ao lado de Chico, mas como você disse, ele foi o que de melhor aconteceu para a música brasileira nos anos 90, e ninguém nunca vai tirar isso, ele foi único e pronto. Ouví-lo foi fundamental, é da nossa geração e nos deu motivo para trabalhar e entender a música brasileira, o que Raul Seixas queria quando dizia que Luiz Gonzaga era a coisa mais "elvispreslyana" que conhecia. Somos ricos nesse negócio, digo ricos de música, não de dinheiro, mas de conexões sonoras. A música brasileira está para o mundo como o cinema indiano, somos independentes de idéias e nosso mercado é grande e menos subordinado que a grande maioria do países "em desenvolvimento".

4) Sendo um grupo jovem e novo na mídia, como vocês se sentem logo de cara receber elogios de nomes consagrados como Lobão, Roberto Frejat e Lenine ?

Com certeza é um prazer saber que essas pessoas, que nós admiramos (e que temos como referências), conheceram nosso trabalho e gostaram. Na realidade, estamos trabalhando já há três anos, então isso reflete também esse esforço realizado até agora. Mas temos consciência de que isso realmente ainda é o começo, e que pra botar tudo o que está nas nossas idéias teremos que suar muito, muito mesmo. Há muito o que fazer, e conseqüentemente muito o que curtir, afinal de contas, declarações dessas pessoas é uma massagem que sempre sonhamos.

5) A banda foi indicada na categoria "grupo revelação" no Prêmio Multishow de Música Brasileira 2002. Vocês esperavam esse reconhecimento a curto prazo?

Foi uma surpresa essa indicação para o Prêmio Multishow.E com certeza uma força a mais para nossa carreira, é como se já tivéssemos ganho algum prêmio só em sermos indicados.

6) Como Carlinhos Brown entrou na história da banda?

O Brown foi um grande companheiro. Não tínhamos nada, apenas o show e a idéia do nosso primeiro CD. Ele foi ao nosso estúdio de ensaio e deu algumas idéias de arranjo, depois ofereceu o estúdio dele para começarmos a gravar de maneira independente, sem nos cobrar nada. Então isso impulsionou o interesse da gravadora, pois já tínhamos 90% do disco gravado em ótima qualidade. Ele assina a produção de três das doze músicas do CD.

A banda num momento de descontração

7) Fale pra gente sobre primeiro cd de vocês, intitulado"Que Luz é Essa?"

O processo de produção do nosso primeiro CD “Que Luz é Essa?” teve início dessa maneira independente que falamos a pouco. Isso foi muito importante, pois além de nos dar a oportunidade de acompanhar e entender todas as etapas da produção, chegamos a um resultado final (já com a participação de uma grande gravadora) de acordo com nossas intenções primeiras. Com certeza foi uma experiência fundamental, que traz para as pessoas um retrato fiel da formação de nosso trabalho, e uma base sólida para os próximos discos. São 14 faixas: das quais 4 são próprias, 4 são de parceiros da nossa geração (dando uma amostragem de outros novos talentos) e 4 são releituras de influências importantes e que funcionam muito bem nos shows que são “Que Luz é Essa?” (do essencial Raul Seixas e Cláudio Roberto), “Espelho Cristalino” (Alceu Valença), “Seo Zé” (Carlinhos Brown, Marisa Monte e Nando Reis) e ainda “Forró dos Dois Irmãos” (Edmílson do Pífano) e mais duas faixas que são vinhetas de condução. O CD foi produzido por Paulo Rafael (guitarrista e produtor que faz parte da história da música nordestina e que com certeza tem um dos mais belos timbres de guitarra), e conta com as participações de Dominguinhos em duas faixas (“Logo Eu” e “Mestiça Raiz”), Alceu Valença (em “Espelho Cristalino” de sua autoria) e ainda Emerson Cunha e André T em algumas programações (este último um produtor de mão cheia da novíssima cena baiana).

8) Pra vocês, que estão com o trabalho reconhecido a cada dia que passa em diversas regiões brasileiras, como é tocar rock na capital da axé music e ainda fazer sucesso?

A Bahia sempre teve uma produção musical muito intensa e variada. Infelizmente, na última década somente um segmento musical obteve destaque e conseguiu se estruturar no mercado, o que teve a sua importância para o crescimento do mercado local (maior número e melhor qualidade de estúdios, tanto de ensaios como de gravação, e também elevação da qualidade da mão de obra técnica e de produção). Por outro lado, esse fato prejudicou ainda mais a aceitação de trabalhos já distantes dos grandes meios de comunicação, principalmente fora da Bahia. Tem um pouco aquela coisa de “não sabia que na Bahia tem rock’n roll !!”. O importante é saber que nomes como Raul Seixas e Camisa de Vênus sairam de lá, e que lugares como o bairro do Rio Vermelho onde você pode chegar qualquer dia da semana e sempre assistir a um bom show de rock, reggae ou música eletrônica (e isso até nos tempos mais duros da ditadura da música de carnaval e seus grandes bailes para vinte mil pessoas) sempre existiram em Salvador.

9) Quais os próximos passos do Lampirônicos?

Estaremos indo para São Paulo no final de maio para passar uma temporada lá, fazendo divulgação do nosso novo clip “Que Luz é Essa?” e algumas apresentações. Estaremos no Rio de Janeiro no dia 4 de junho para o Prêmio Multishow e há também a possibilidade de tocarmos por lá. Queremos este ano tocar bastante para divulgar este disco e fazer com que cada vez mais pessoas tenham acesso ao nosso trabalho. Ah! No dia 31 de Maio abriremos o show do Rappa na Concha Acústica, em Salvador.

O vocalista Nikima agradecendo ao carinho do público

10) Deixe uma mensagem final pra todos os fãs do Lamps e para os que ainda não conhecem o trabalho de vocês de perto.

Achamos importante que todos saibam da importância que o Brasil (com sua rica cultura) tem vislumbrado na confusa situação internacional. A compreensão com o outro e a consequente mestiçagem que é a essência da nossa nação, se levada a sério (debatida e amadurecida), pode ainda ser uma grande aliada na construção do futuro no mundo. É fundamental também a educação e o combate à concentração de riquezas representada na crença total ao sistema financeiro internacional. A gente queria agradecer a atenção que as pessoas (inclusive o pessoal do MV Portal das Cifras) tem com o nosso som, e o carinho que muitas pessoas demonstram através de inúmeros emails. Visitem nosso site (www.lampironicos.com.br ) . Um abraço, dos Lamps.

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