ENTREVISTA ESPECIAL :  Lady Zu


A eterna diva da disco music

Lady Zu mostra, através de sua carreira, a verdadeira artista da música nacional


Lady Zu, considerada a rainha da discoteca brasileira, é aquela artista que a música deve sempre se honrar de tê-la em seu meio. Sua perseverança e  talento acompanharam até os dias de hoje essa guerreira, que encantou e continua encantando a todos nos palcos da vida. Paulista, filha de pernambucanos, Zuleide Santos da Silva, seu nome de origem, começou como cantora aos 8 anos de idade, em programas da TV Cultura de São Paulo.  Estudou canto dos 10 aos 13 anos, e depois disso passou a atuar profissionalmente, em programas infantis e bailes. Mais tarde, ela trabalharia como bancária, escriturária e até locutora do Mercado Municipal da Lapa. Fã de Aretha Franklin e Tina Turner, fez diversos testes para crooner em casas noturnas, mas sempre era vetada por ser ainda muito jovem. Mas como toda boa artista, a sorte teria que estar do lado dela. E parece que sua estrela falou mais alto, já que depois de batalhar muito anos sem sucesso na porta de gravadoras, em 1977 conseguiu, por intermédio do disc-jóquei Sebastião Ferreira da Silva, gravar um compacto produzido por Marcos Maynard, com A Noite Vai Chegar (Paulinho Camargo)/ Eu Prefiro Dançar (Totó Mugabe), que vendeu milhares de cópias. Começava ali sua redenção.

Seu primeiro disco tornou-se, então, um hit instantâneo nas rádios e nas pistas de dança de todo o país. O sucesso foi incluído na trilha sonora da bem-sucedida novela "Sem Lenço, Sem Documento", da Rede Globo, o que, por si só, era um feito e tanto para uma cantora que estava apenas começando. As milhares cópias vendidas do compacto despertaram o interesse da gravadora Phonogram para lançar o primeiro LP da cantora o mais rápido possível. O álbum, devidamente intitulado A Noite Vai Chegar, era composto por 12 músicas com estilos que variavam da disco music ao funk soul e romântico. Esse disco é considerado atualmente um dos expoentes da soul music brasileira, juntamente com trabalhos de nomes como Jorge Benjor, Tim Maia, Gérson King Combo e outros. Capturando de forma brilhante a moda das discotecas da época, o LP foi muito mais além: os arranjos fundiram, de forma bem-sucedida, a fórmula sincopada da disco music com ritmos tipicamente nacionais, como o forró baião e, claro, o samba. Tornaram-se grandes sucessos, além da faixa-título, Só Você (Por Você, Com Você) (de C. Dalto/P. Greedus) - tema da novela "Te Contei?", Novidades (de Peninha) e Com Sabor (de Nelson Motta / Dom Charles).

O disco lhe valeu o título de Rainha da Discoteca Brasileira e possibilitou-lhe a gravação do segundo LP, Fêmea Brasileira, em 79, cujo grande sucesso foi Hora da União (Totó Mugabe), e que contava ainda com uma versão disco de A Banda (Chico Buarque). Depois desse disco, a diva preferiu fazer um grande hiato em sua carreira. Porém, voltou à cena dez anos depois, em 89, participando do disco Alma Negra, ao lado de Tony Tornado, Tony Bizarro, Luiz Vagner e Carlinhos Trumpete. Lady Zu contribuiu com a bela Junto A Mim, além de Vou Vivendo, ambas de Frankye Arduini. No mesmo ano, lançou mais um disco solo, Louco Amor (Continental). Com composições de Chico Roque, Paulo Sérgio Valle, Robson Jorge, dentre outros, a cantora resolveu deixar seu passado de "rainha das discotecas" de lado para centrar forças nas músicas românticas.

Mas a "Donna Summer brasileira", título dado pelo saudoso apresentador Chacrinha, ainda tinha muito para contribuir com o momento atual da música nacional. Oito anos  depois de seu último lançamento, ela foi uma das convidadas especiais do disco de estréia do cantor Carlos Navas, intitulado Pouco Pra Mim, lançado pela gravadora Dabliú. Juntos, eles gravaram Me Leve, de Djavan. Em 2000, Lady Zu participou do 4º disco solo de Márcia Freire (ex-vocalista da Banda Cheiro de Amor). Sua contribuição foi no inusitado dueto Está Chovendo Homem, versão para a saltitante "It's Raining Men" da  dupla norte-americana The Weather Girls.

Em 2001, um grande revival da Disco Music invadiu a cultura mundial, o que estimulou a Universal Music (dona do catálogo da PolyGram/Philips) a finalmente lançar os dois primeiros discos de Lady Zu em CD. Convocaram Charles Gavin, baterista da banda Titãs, para, junto com Ricardo Garcia, remasterizar tanto A Noite Vai Chegar (1978) e Fêmea Brasileira (1979) diretamente dos tapes originais. O resultado são dois CDs excelentes, com sonoridade cristalina, que fazem justiça ao grande trabalho realizados por Lady Zu e o produtor Marcos Maynard, mais de 20 anos antes. Em 2002, a cantora lançou outro álbum de carreira, intitulado Number One, pela Abril Music. No CD, ela revisita seus dois maiores hits, A Noite Vai Chegar e Hora de União. Mas a hora da saudade termina aí. O novo disco revela uma artista em harmonia com as novas tendências da música eletrônica, do rhythm and blues e do hip-hop.

Vale lembrar que a importância de Lady Zu no cenário da música nacional finalmente passou a ser reconhecida pela mídia atual. No início de 2006, a gravadora Som Livre lançou a coletânea "Soul Brasil", que incluiu Hora de União (Samba Soul) (versão original de 1979), com o famoso dueto com Totó. Além disso, o grupo mineiro de black music Berimbrown a convidou para participar do disco "Mestres Negros da Música Brasileira", em que reverencia grandes artistas do país. A música escolhida, é claro, foi também Hora de União .

Fizemos uma entrevista muito interessante com a cantora que aborda um pouco sobre seu passado, seus planos e momento atual. Confira, abaixo, na íntegra !

Site:

http://www.ladyzu.net

Marcus Vinicius Jacobson

Reportagem

Entrevista publicada no dia 10/09/2008

1) Qual o balanço que você faz de toda sua vasta carreira até aqui ?

Carreira de aprendizado, cada vez mais a gente aprende a lidar com a música, o público, gravei poucos discos mas tive grandes sucessos e uma boa aceitação do público...

2) Como é ser lembrada até os dias de hoje como a ``Diva da Disco`` ?

Muito bom saber que as pessoas têm esse respeito pelo meu trabalho, que marquei tanto a vida das pessoas, e vem através dos tempos, gerações, é muito gratificante... Ser lembrada dessa forma... Ter meu "status" garantido na memória das pessoas é muito bom... (risos)

3) Quais as principais diferenças que você vê da música atual para a música de antigamente ?

Não vejo diferença nenhuma, acho apenas que as tendências hoje são outras. A forma de cantar é outra, o estilo dos arranjos... mas não que isso seja uma diferença... música é sempre música, o que há é uma progressão para adequar a música ao seu tempo...

4) Você segue ativa, com shows por todo o país. Contudo a mídia não abre muito espaço para os expoentes de décadas passadas. Como você vê isso ?

Vejo de uma forma natural, porque sempre foi assim. Não sou a única de minha época que não está na mídia. Outros artistas que passaram antes de mim também não contaram com o apoio da mídia depois que passou o "boom" e nem por isso foram totalmente esquecidos e deixaram de trabalhar...

5) Você teve um grande hiato em sua carreira no final dos anos 70 e ficou sem lançar discos. O que ocorreu para você dar essa parada ?

Olha, o comércio do disco é como qualquer outro comércio... as pessoas, os profissionais eles lançam um produto e assim que o produto não cabe mais dentro do "espaço" ele é obrigado a continuar trabalhando sozinho, então para você lançar algo somente por lançar não é interessante, e por isso os hiatos, pois não havia o contexto para mim... Preferi esperar para poder lançar algo legal, no momento certo... As tendências musicais mudam muito, a gente trabalha no que está acostumado a fazer, sempre de olho nas oportunidades, para lançar algo legal...

6) Qual foi seu último trabalho que lançou ? Fale pra gente um pouco sobre ele.

O mais recente foi o "Number One", pela Abril Music, que é mais voltado para a R&B, trabalhei com grandes artistas, grandes profissionais, grandes músicos... Em termos de musicalidade consegui chegar onde eu queria, mas infelizmente a empresa fechou e não pode me oferecer o apoio necessário e o respaldo que o trabalho merecia...

7) Qual sua principal conquista dentro da música qual a principal decepção ?

Minha principal conquista foi ter conseguido conquistar o público. Você lançar algo e mexer com o sentimento das pessoas é muito bom... Minha grande conquista foi essa, ter o retorno com relação ao público... Decepção, realmente eu não tenho... dentro do meu trabalho eu sou muito bem correspondida...

8) Nesse ano você participou de um projeto de black music brasileira com o mestre do soul e do suingue Carlos Dafé. O que te representou esse momento, já que vocês 2 são os grandes representantes das vertentes do gênero.

Foi um escândalo! O Dafé é realmente um grande representante da música Black... uma grande honra para mim dividir o palco com ele.

9) Quais seus próximos projetos dentro da música ?

Não sou muito de ficar arquitetando nada... vou muito pelo que eu sinto vontade de fazer no momento... meu grande trunfo sempre foi mesclar os sucessos e coisas da atualidade... meu principal projeto é sempre respeitar o público cantando e levando a eles um bom trabalho, feito com muito carinho.

10) Deixe um recado final pra todos os seus fãs espalhados pelo país a fora.

Quero agradecer aos meus fãs por todo o carinho que eles têm por mim. E por todos os que estão conhecendo meu trabalho agora... Se eu não os tivesse a minha volta, não teria nenhuma motivação. O que me mantem cantando é essa força, vibração... Todos me fazem muito bem e sem eles não haveria Lady Zu. Beijos, muitos.

VOLTAR | ATUALIZAR | AVANÇAR