ENTREVISTA ESPECIAL : Fred Martins

Poético, melódico e com lugar cativo na MPB

Fred Martins atinge sua maturidade e hoje é um dos músicos mais requisitados da nova mpb através de uma coleção de sucessos

 

Requisitado cantor, compositor, violonista e arranjador, as canções de Fred Martins já conquistaram nomes consagrados na MPB e foram gravadas na voz de diferentes intérpretes, como Ney Matogrosso, Zélia Duncan e Maria Rita. Trata-se de um músico altamente poético e melódico que faz seus trabalhos virarem verdeiras coleções de canções mais significativas dos últimos tempos. Provando ser um artista diferencial basta nos remeter a 2006, ano em que Fred obteve o 1º lugar na Edição Compositores do 9º Prêmio Visa de Música e angariou, como prêmio, a gravação do CD Tempo Afora. Vale lembrar que apesar de compor há 20 anos, só nos anos 2000 Fred Martins se tornou oficialmente um cantor. A estréia aconteceu com Janelas (2001).

Natural de Niterói, o cantor e compositor enveredou pelo campo da música desde os anos 80, quando começou a compor em parceria com Marcelo Diniz e Manoel Gomes. Ainda adolescente, formou a sua primeira banda, na qual misturava jazz com MPB, com fortes influências do pessoal mineiro do Clube da Esquina e de Egberto Gismonti. Depois disso, passou dez anos fazendo transcrições de cifras de músicas para os songbooks lançados por Almir Chediak,c omo os de Rita Lee, Noel Rosa, Gilberto Gil, Tom Jobim e Chico Buarque, entre outros. Até que, em 1999, a amiga Lucina fez chegar às mãos de Ney Matogrosso uma fita contendo várias canções de sua autoria. Ney escolheu Novamente e a incluiu em seu álbum Olhos de Farol, dando o pontapé inicial para o reconhecimento artístico de Fred, já que a canção fez parte da trilha sonora do seriado "Mulher" (Rede Globo). Dois anos depois, foi a vez de Zélia Duncan registrar, no CD Sortimento, as canções Flores e Hóspede do Tempo.

O interesse de Fred Martins pela música começou quando ouvia João Gilberto e outros cantores de renome no rádio. A partir daí, passou a compor letras e arranjos. Durante a década de 1990 enviava incessantemente suas composições a artistas da cena musical brasileira. Em 1997 participou da coletânea O Ovo (RioArte/Dubas), que reuniu uma nova geração de compositores e cantores cariocas. Depois do sucesso em 2001 com o CD Janelas, em 2004, Fred lançou Raro e Comum, segundo álbum de inéditas, contendo suas composições Telefonema, Céu acima, Todo mundo diz, O samba me diz, Sem você, Sem horizonte, De novo e a faixa-título, todas com Marcelo Diniz, Pescaria (c/ Lucina) e Cristalino, além de A música em mim (Lucina e e Lenita Lopez). O disco foi produzido por Patrícia Ferraz e contou com a participação de Ney Matogrosso (na faixa "Raro e comum") e Zélia Duncan (na faixa A música em mim), e dos músicos Marcos Suzano e DJ Marcelinho Da Lua. Também nesse ano, sua composição Tempo afora foi gravada no CD Vagabundo, de Ney Matogrosso e Pedro Luís e A Parede.

Em 2005 e 2006, Fred participou de editais como Projeto Pixinguinha, Música na Caixa e Pauta Funarte. Em fevereiro de 2006 apresentou seu trabalho na IP Week, em Londres e, em outubro, fez os shows de abertura do Brasil Plural, festival anual de cinema brasileiro, em Munique, Alemanha. Em 2008, lançou o DVD Tempo afora, uma parceria da gravadora Eldorado com o Canal Brasil, gravado ao vivo na casa Bourbon Street (SP), com direção de Paulo Henrique Fontenelle e a participação dos músicos Chico Chagas (acordeom), Fernando Caneca (guitarra) e Victor Bertrami (bateria). Nesse mesmo ano, fez show de lançamento do DVD na casa Cinemathèque Jam Club (RJ), tendo a seu lado os músicos Alex Rocha (baixo), Fernando Caneca (guitarra) e Victor Bertrami (bateria).

No ano passado o jovem artista lançou um novo disco, intitulado Guanabara, uma explícita declaração de amor à bossa nova, o estilo musical surgido à beira da Baía que deu nome ao estado federal extinto pela ditadura militar. Nas treze faixas do disco, o artista optou por arranjos fidelíssimos ao que há de melhor na escola bossa-novista. Nada de concessões às supostas modernidades, nem tampouco uso exagerado de brinquedos tecnológicos. É a velha bossa, nua e crua, composta por Fred Martins e seus parceiros habituais: Marcelo Diniz, Manoel Gomes, Francisco Bosco (filho de João Bosco) e Fred Girauta.

Estivemos reunidos com o cantor para que ele nos colocasse a par de suas novidades ainda para esse ano. Confira !

Site: http://www.fredmartins.mus.br

Marcus Vinicius Jacobson

Reportagem

Entrevista publicada no dia 21/09/2010

1) Qual o balanço que você faz de sua carreira até aqui ?

A música tem sido generosa comigo. no início só queria aprender um pouco, ao violão, as canções que me encantavam. Poder cantá-las vez em quando embalado em sua beleza. Mas fui sendo levado levado, seduzido pelo mistério que ela traz, e logo já arriscava compor canções sozinho ou, mais adiante, em parceria com poetas como o Marcelo Diniz e o Manoel Gomes, Alexandre Lemos, Suely Mesquita. Gravarei agora meu 5º CD e muita gente que admiro tem gravado nossas canções. Pra mim o saldo desses anos na música é bem positivo.

2) Você tem um grande reconhecimento através de suas composições. Tem alguma preferência entre a arte de cantar e compor ?

A composição é o foco em meu trabalho. Gosto também de cantar, mas tenho que ter uma sensação de intimidade com uma canção pra me animar a cantá-la.

3) Como você está vendo a nova MPB ?

Eu vejo que está muito bem, pois é a minha área, os canais de divulgação da produção musical hoje são múltiplos, sendo fácil atopar aqui e a alí com trabalhos excelentes. A bola está com os independentes. O que, por um lado, é maravilhoso. Temos um Renato Braz, um Kleber Albuquerque,um Chico Saraiva, entre outros mil. Mas o grande público está sem referencias do que se passa. O que seria relevante artisticamente, ao meu ver, está em sétimo plano na pauta de prioridades da mídia convencional. A música criativa está fora do senso comum - os tradicionais meios: rádios, TV, jornais, gravadoras; enrijeceram e, artistica, ética e filosoficamente, perderam a capacidade cognitiva.

4) Você é um dos nomes mais elogiados da nova música popular brasileira. Como se sente diante desse reconhecimento ?

Fortíssimo. Muita gente talentosa, que super admiro, dando atenção ao que venho fazendo. Um super estímulo.

5) Durante a década de 1990 você enviava incessantemente suas composições a artistas da cena musical brasileira e ficou conhecido quando Ney Matogrosso gravou em 1999 a canção "Novamente", de sua autoria, seguido de Zélia Duncan, com a música "Flores", no álbum "Sortimento". Você acredita que esse seja o caminho certo para os novos e talentosos compositores ?

Na verdade enviava pouco minhas músicas aos intérpretes. A Lucina foi quem me abriu portas levando músicas minhas ao Ney e à Zélia. Mas acho que sim, os compositores devem enviar suas canções aos cantores que curtem. Famosos ou não.

6) Você considera que quando Ney e Zélia escolheram suas músicas lhe deu maior segurança para cantar e assumir os grandes palcos?

O fato do Ney e Zélia gravarem minhas músicas fêz com que parte da crítisca especializada atentasse ao meu trabalh . Mas a minha vontade de estar em palco vem de um processo mais longo, um aprendizado gradual dos anos de estudo, do trabalho nos songbooks do Chediaque, do convívio com outros músicos e poetas.

7) Fale pra gente um pouco sobre seu novo CD.

O Guanabara é uma resposta às minhas referências básicas: o som de Tom, João, Vinicius, Baden e o samba de Paulinho da viola e Nelson Cavaquinho. 8) Como foi trabalhar com Almir Chediak e sua importância para sua carreirF? Fundamental. foi a minha maior escola. alí pude dissecar a obra de Noel , Tom, Chico, etc...vc imagina? Eu não poderia ser o mesmo depois de passar por essas àguas.

9) Quais seus próximos planos dentro da música ?

Gravo agora, Setembro, um CD muito intimista, fruto um pouco de minhas viagens e da mudança para Compostela. Estou morando em Santiago, Galiza, desde Fevereiro. Gravo também, em Outubro, um Cd em duo com uma grande cantora compositora galega, Ugia pedreira e em futuro próximo um álbum com poemas musicados.

10) Deixe um recado final para todos os seus fãs espalhados pelo país a fora.

Só posso agradecer o carinho e o retorno de todos que vêm acompanhando meu trabalho. Grande abraço!

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