ENTREVISTA ESPECIAL: Papas da Língua

´´Não sonhe que as gravadoras vão salvar a pátria``

Banda gaúcha de pop/reggae consegue com seus próprios esforços o reconhecimento


Papas da Lingua: Um grupo que chegou lá com seus próprios esforços

Sinceridade, confiança e competência. Dessa maneira é que a banda gaúcha Papas da Língua começou a ocupar um lugar de destaque no cenário musical de nosso país. O grupo, com suas músicas que misturam pop e reggae, atingiram total reconhecimento do trabalho ao longo dos 7 anos de carreira.

Os Papas da Língua comemoram o sucesso dos seus dois últimos discos, Xa-la-lá e Babybum. O primeiro vendeu 50 mil cópias apenas na região sul do país. Já o Babybum, lançado há apenas 4 meses, já alcançou a marca das 15 mil cópias. Nos próximos meses, o  grupo ruma para São Paulo no para uma temporada de shows em casas noturnas e programas de televisão.

O grupo é formado pelo swing da guitarra de LÉO HENKIN - que com talento e criatividade compõe a maioria das letras e das melodias, pelo baixo de ZÉ NATÁLIO, dono de um peso e uma pulsação impressionante; pelo baterista FERNANDO PEZÃO, experiente e atento a todas as direções da música mundial; pelo carismático SERGINHO MOAH, que com sua voz ao mesmo tempo arranhada e aveludada é um dos melhores vocalistas do país, além do convidado especial CAU NETTO, que enriquece a sonoridade da banda com seus teclados e sintetizadores.

Apesar de estarem apenas 7 anos na batalha, a história dessa banda gaúcha é recheada de sucessos. E quem vai contar mais sobre a carreira, novos projetos, música, mercado, são os próprios integrantes do Papas da Língua. Confira essa super entrevista que realizamos com esse fenômeno popular gaúcho.

 

SITE OFICIAL -> http://www.papasdalingua.com.br

Marcus Vinicius Jacobson

Reportagem

Entrevista publicada no dia 05/02/2002

1) Por que Papas da Língua?

A gente escreveu em um papel vários nomes que vinham da cabeça de cada um. PAPAS e LÍNGUA são duas palavras pop prá caramba, são sobretudo palavras muito sonoras. E foi baseado nisso apenas - na sonoridade das palavras - que a gente escolheu o nome.

2) Como tudo começou?

Começamos em 1993, gravando duas músicas. Uma delas estourou nas FMs de Porto Alegre. Era um reggae roots, chamado "Democracy", e tinha uma letra que falava de aculturação ,política, falava de Macunaíma e essa história de heróis, falava de momentos da história brasileira, um negócio muito complicado e foi uma surpresa ela ter sido um sucesso. Começamos então a fazer shows pequenos dentro da cidade e no interior.Em maio de 1994 fechamos um contrato com a Sony e em 1995 lançamos nosso primeiro disco ("PAPAS DA LÌNGUA").

3) Quais as influências da banda?

Beatles e Bob Marley e tudo que tiver melodias bacanas. Por outro lado, não dá prá negar a influência da black music de um modo geral.

4) Como você classifica o som do Papas da Língua?

PoP, sem dúvida nenhuma. Agora se você se aprofundar em ouvir o nosso som, vai perceber o rock, e o reggae principalmente.

5) Em janeiro de 1996, os Papas da Língua participam da primeira edição do Planeta Atlântida, maior evento multimídia do sul do país, diante de mais de 40  mil pessoas. Qual a sensação de vocês terem tocado pra esse grande público numa  das primeiras apresentações doa banda oficialmente?

Foi incrível. A gente tava começando, participar daquilo era muito grande prá nós. Aí os caras da rádio Atlântida fizeram uma pesquisa e viram que a galera tava muito a fim do PAPAS. Tocamos no sábado, às nove da noite depois da Fernanda Abreu e antes dos Titãs. Não acreditamos, estávamos nervosos obviamente, no meio de bandas consagradas, mas subimos lá e tocamos com muita vontade,muita adrenalina, mandamos ver prá 40 mil pessoas. Foi um grande pulo que a gente deu, nos estimulou prá segurar as broncas e nos ajudou muito a amadurecer. De lá prá cá, participamos mais três vezes do Planeta Atlântida.

6) Qual foi a emoção de tocar pela primeira vez ao lado de bandas consagradas e grandes nomes da música brasileira em 1998 durante o Brahma Brasil Festival na Riviera Francesa ?

Pois é, a vida reserva ao Papas coisas muito interessantes. Ainda não havíamos tocado no centro dopaís e acabamos indo prá França. Participamos do primeiro festival em 96, e ,depois dessa edição de 98, durante a copa do mundo com todos os grandes artistas da música pop brasileira. Fizemos belas amizades com a rapeiz do Skank, do Rappa, subimos no palco com o Paralamas e depois no último dia com o nosso querido ídolo Gilberto Gil. Cara, cantamos com ele "Toda menina baiana" , foi um sonho dos melhores.

7) E o cenário nacional para as bandas de reggae? Na opinião de vocês está bom ou ruim?

Na verdade o reggae é um dos elementos que aparecem na nossa música. "as vezes ele desaparece, como no nosso último cd, o "Baby Bum". Mas pode voltar daqui a pouco. Agora eu acho que nem o Brasil nem o mundo apresentaram até agora, depois que Marley e Tosh se foram, ótimas bandas de reggae roots. É a prova de que fazer um bom roots não é moleza não! Mas existem ótimas bandas que fazem pop- reggae. Skank e Cidade Negra por exemplo. Mas também deve ter muita coisa por aí escondida, , que não aparece na mídia. Agora, existe um público de reggae que é muito grande , principalmente em praças como RS, SC, SP. Por isso muitas bandas vem prá cá e vem até prá morar aqui, onde o reggae rola bem. Meu, tem muito bicão achando que é só fazer um contra na guitarra que tá fazendo reggae! Vamos com calma!

8) Agora com o axé, pagode, funk e forró em alta é preciso continuar quebrando barreiras para ter o trabalho reconhecido no centro do país, ou já existe um nicho de público para reggae mais significativo? E vocês consideram que tem espaço pra todo mundo?

Nós paramos de esquentar a cabeça com esse negócio de estourar no eixo, de se mudar prá São Paulo e essas coisas todas.Nosso negócio é fazer e consolidar uma carreira. Vamos onde quiserem que a gente toque.Qualquer hora talvez as gravadoras descubram o Papas e se dediquem mais seiramente. Ano passado fomos tocar em Viena.Já tocamos em Buenos Aires e Montevideo, duas vezes na França. Fizemos duzentos e trinta shows em um ano e oito meses com o nosso segundo disco - o "Xa-la-lá" que vendeu 60 mil cópias só no RS e continua em catálogo, vendendo prá caramba.

O nosso terceiro dico, "Baby Bum" tem uma música chamada "Eu sei", uma balada, que ficou dois meses entre as oitenta músicas mais tocadas em rádio no Brasil - isto que ela rodou apenas na região sul -! Nossas músicas pipocam de vez em quando em outros estados, tipó RJ, Mato Grosso, Bahia, RN, Brasília, mas não de uma maneira forte e consistente, como é no sul. O que está acontecendo por aqui, na região sul, é um fortalecimento da região como polo musical. A galera hoje em dia quer ouvir as suas bandas. Artistas que eles podem encontrar nas esquinas, que fazem shows bacanas em suas cidades, artistas que eles vêem nas tvs e ouvem nas rádios do sul. Está um pouco mais difícil para as bandas de fora, não é mais aquela moleza prá novas bandas do eixo Rio-Sp rodar prá caramba nas rádios daqui. Isso de certa forma equilibra ascoisas, e faz com que haja mais espaço prá mais artistas, mesmo que seja de uma forma estranha.

A Bahia passou anos e anos e conseguiu estabalecer um mercado próprio, saindo do eixo Rio-Sampa e criando um eixo próprio. O Sul está conseguindo a mesma coisa, fortalecendo um mercado próprio, onde as bandas conseguem fazer shows o ano inteiro , vender seus discos, fazer programas de televisão, tocar nas rádios, enfim, ser artista sem ter que "estourar" no Faustão, vender um milhão de cópias, etc..E a tendência é que isso ocorra em várias microregiões do Brasil, porque não é mais possível depender de um eixo. É óbvio , pois não cabe todo mundo nesse eixo. Não acredito nesse negócio de que agora a onda é....Acredito que um artista tem que acreditar no que faz, sempre!

9) Uma coisa que muitos críticos hoje em dia afirmam, é que a música está perdendo sua essência e se transformando num balcão de negócios, algo especificamente comercial. As bandas não tocam o que querem e sim o que é melhor para as gravadoras. O que vocês acham disso?

Não concordo inteiramente. Acho que já se foi o tempo em que a gravadora metia o dedo na concepção artística das bandas. As bandas já nascem com uma personalidade artística e as gravadoras, lá pelos anos oitenta se deram conta disso. Elas sacaram, "deixa a molecada fazer do jeito deles, deixa ser o que é..". Mas existem bandas que por conta própria, direcionam o seu trabalho , a sua música para as tendências , ou as modas , ou seja lá o que for. Eu acho que essas bandas não resistem ao tempo e à artificialidade. Mas isso não tem nada a ver com "comercial", todos nós temos que ser "comerciais" em certo sentido. Nosso produto tem ser consumido pelo mercado. Agora se você quer fazer uma música doidona, complexa, azar o seu, ninguém vai escutar e é obvio que as rádios não vão tocar, não adianta chorar...!

10) Como voces definem o álbum Baby Bum ?

É um album bem pop, com o detalhe do rock e a presença de baladas para namorar e dançar coladinho . No final todas as letras desse disco, com exceção de "Vou empurrá", falam de garotas, tem um pouco de adolescência , uma atmosfera adolescente paira sobre o disco. Na capa tem uma garota andando de patinete, tem um pouco de ingenuidade e nostalgia!

11) Como tem sido a aceitação desse novo trabalho?

Excelente, as pessoas de um modo geral acham que esse nosso disco é mais maduro. As rádios estão executando muito bem, o que nos deixa tranquilos, pois é sinal que a rapaziada tá a fim de ouvir.

12) E a tour de divulgação do CD ?

Estamos na estrada desde março, com shows todo o fim de semana.No sul, essa divulgação, através do nosso selo Antídoto está muito boa. Estamos com problemas de divulgação no centro do país, pois a Abril Music, deveria ter lançado o cd e até agora nada. Mas as gravadoras estão com um problemaão chamado pirataria.Então se já estava complicado antes, agora tá muito mais. Mas tudo bem , a gente vai levando assim mesmo, porque com o Papas sempre foi assim. Temos que trabalhar muito, correr por fora, cuidar do que a gente já tem, achar alternativas para que a nossa música chegue ao público sem depender das promessas das gravadoras. Ainda bem que a voz do povo ainda manda!

13) Voces ja estão preparando o próximo álbum? Como será?

Estamos fermentando a idéia em nossas mentes. Temos músicas prá caramba. Temos uma música que vai estar na trilha sonora de um longa metragem chamado "Houve uma vez dois verões", que estréia no Brasil em março. Estamos muito felizes com ela, é uma bela canção. A trilha sonora ainda traz Pato Fu, Cássia Eller, Ultramen, Sombrero Luminoso, Wander Wildner, Video Hits e Frank Jorge. Mas o cd novo do Papas ainda é uma idéia bruta, meio nebulosa, achamos que é uma coisa pro meio do ano que vem, mas, sabe-se lá!!

14) O que vocês acham da proliferação de músicas em MP3 de artistas e bandas pela Internet?

Vocês são a favor ou contra? Achamos que deve haver uma regulamentação, senão vira o que mais ou menos está aí, ninguém sabe nada, os artistas não tem controle sobre a sua obra, etc..Seria muito bom, se as músicas pudessem vagar pela web e que os autores e intérpretes pudessem receber por isso. A rede sem dúvida é exelente para a divulgação dos artistas, apenas é preciso regulamentação.

15) Para finalizar, qual conselho que vocês deixariam para as bandas novas que estão na luta para conseguir alcançar um lugar no cenário musical em nosso  país?

Trabalhar muito, não procurar a onda do momento, e não sonhar que as gravadoras vão salvar a pátria.

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