ENTREVISTA ESPECIAL : Cidadão Quem

Uma banda com a essência do rock gaúcho

Apesar de parada, Cidadão Quem ainda figura no mercado como uma banda que marcou gerações

Surgida em Porto Alegre nos anos 90, a banda Cidadão Quem é um dos expoentes do rock gaúcho. Apesar de parada devido ao fato do líder do grupo estar em um projeto duo com Gessinger, vocalista dos Engenheiros do Hawaii e a problemas de saúde de seu irmão, a banda tem sempre seu nome associado quando estamos nos referindo à música de qualidade. Seu primeiro show foi em maio de 1990, exatamente 49 anos após a primeira exibição do histórico filme Cidadão Kane, de Orson Welles, e que deu origem ao nome da banda. A formação original do grupo foi com Cau Hafner (bateria), Duca Leindecker (vocal e guitarra) e Luciano Leindecker (baixo). A partir daí a história desses jovens começou a ser escrita e mesmo diante dos obstáculos surgidos no meio do caminho, a banda tem muito o que comemorar.

Em 1991 por exemplo, o grupo  ficou entre os finalistas do Rock in Rio 2, ultrapassando 368 bandas de todo o Brasil. Já participou de vários especiais para a RBS e foi revelação do jornal Zero Hora, tendo recebido o troféu Açorianos de melhor banda gaúcha em 1993, 1998 e 1999. Em agosto de 1993, o primeiro CD dos ``caras`` é lançado. Intitulado Outras Caras, o trabalho teve mais de vinte mil cópias vendidas. Em junho de 1995, a banda iniciou as gravações de seu segundo CD em São Paulo, no estúdio Art mix, produzido por Luiz Carlos Maluly e finalizado em Los Angeles, no estúdio Castle Oaks, sendo mixado por Benny Faccione.

Em maio de 1996, então, o CD A Lente Azul chega ao mercado pela Polygram, tendo como música de trabalho Os Segundos, que entrou para a trilha sonora do seriado Malhação, da Rede Globo. Desse mesmo disco foi gravado o clipe da música Balanço, que em 1997 foi lançado na MTV. O sucesso era indiscutível nesse momento. No ano de 1996, a banda aproveita o gancho e lança Spermatozoon, seu terceiro CD e que representou uma retomada ao espírito inicial do grupo, uma volta às raízes, à simplificação. O trabalho foi gravado em Porto Alegre e mixado e masterizado em Nova Iorque. Foi o primeiro CD do selo gaúcho Zoon Records, que além da Cidadão Quem também é selo de bandas como a Graforréia Xilarmônica. O disco teve como música de trabalho Um Dia, com clipe na MTV.

Mas nem tudo são flores no caminho desses jovens artistas gaúchos. Em 1999, o grupo teve seu pior momento ao conviver com a perda do baterista Cau Hafner, em um acidente de pára-quedas. Foi um duro golpe que demorou a ser revertido. Mas o tempo passou e o Cidadão Quem conseguiu dar a volta por cima. Em 2000 lançou o CD Soma tendo na bateria Paula Nozzari que já dividia o palco com Cau durante a turnê do CD Spermatozoon. Em 2002 o grupo volta a participar do Rock in Rio 3.  No ano seguinte é lançado CD Girassóis da Rússia pela ORBEAT Music, gravadora da RBS.  Em 2004 uma nova formação estréia na SOGIPA em Porto Alegre RS tocando ao lado de Capital Inicial, na festa de Aniversário da Rádio Atlântida.

Com mais de setecentos espetáculos em sua bagagem, a banda formada na virada da década de 1980, percorreu o Brasil, da Bahia ao Rio Grande do Sul, do Planeta Atlântida ao Rock in Rio, passando pelo Festival de Verão de Salvador. Os irmãos Duca e Luciano Leindecker formaram um time de peso à altura das formações anteriores e podem ter a certeza que conseguiram com êxito elevar o rock gaúcho no cenário nacional. O melhor momento que descreve isso foi a gravação do CD e DVD acústico em julho de 2004 no Theatro São Pedro de Porto Alegre. Com as participações de Eduardo Bisogno no piano ( Tom Bloch ,Video Hits e Hard Working ), Claudio Mattos na bateria (The Hoockers e Garotos da Rua) e Fernando Peters na Guitarra (Magic Slim, Bebeto Alves e Solon Fishbone ), o trabalho traz também as presenças de Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii) e Mônica Tomasi. Trata-se de uma releitura das principais músicas que fazem e fizeram sucesso na carreira da banda, como Carona, Os Segundos, A la Recherche, Pinhal e Ao Fim de Tudo, entre outras.

Para falar sobre a banda e o momento atual entrevistamos o próprio Duca Leindecker que tem muito para nos contar. Confira !

Site:

http://www.cidadaoquem.com.br

 

Marcus Vinicius Jacobson

Reportagem

Entrevista publicada no dia 29/09/2011

1) Qual o balanço que vocês fazem da carreira da banda até aqui ?

Balanço é o nome de uma música que pertence ao nosso segundo CD gravado nos USA com produção de Luis Carlos Maluly pela Polygram. O disco chama "A Lente Azul" e foi lançado em 1996

2) Fale pra gente um pouco sobre o ultimo single lançado pelo Cidadão Quem.

Não entendi muito bem, acho que vc está se referindo a música " O Amanhã Colorido" com Orquestra. É a versão com Orquestra da música que pertence ao nosso sétimo disco e que está disponível no nosso site. Nós acabamos usando este mesmo arranjo na gravação do DVD do Pouca Vogal ao vivo em Porto Alegre.

3) Aos 22 anos, você foi reverenciado por ninguem menos que Bob Dylan que o convidou para abrir seus shows durante a temporada brasileira. O que representou aquele momento pra sua vida musical ?

Foi importante. Afinal de contas era o Bob Dylan. Lembro de uma matéria no Globo onde o jornalista falava: Cidadão Quem, vocês não sabem quem é? O Dylan sabe. rsrsrsrs

4) O Cidadão Quem atravessou a década de 90 animando os bares de Porto Alegre e hoje são uma referência no mercado do rock nacional. Como se sentem diante dessa conquista ?

Na verdade agente nunca tocou em bares e nem tanto assim em Porto Alegre. O nosso mercado sempre foi o estado do RS, o de SC e do Paraná. Só no RS são mais de 500 cidades. A gente sempre tocou pra estas regiões e ainda é assim salvo em casos como o Rock'n Rio e shows esporádicos pelo centro e nordeste.

5) A banda sofreu alguns baques durante a trajetoria e teve que se refazer com a entrada de outros integrantes, mas mesmo assim continuou a brilhar. Como vocês mantiveram a essência do grupo ?

Sim. Quando o Cau morreu no acidente de para-quedas foi uma porrada. Ainda é. A essência da banda está nas músicas e elas vão ficar a disposição de quem quiser ouvir mesmo depois que não sobrar mais ninguém na banda. A banda sobrevive sempre que alguém nos escuta.

6) Fale pra gente um pouco sobre essa parceria com o Gessinger com o projeto duo Pouca Vogal.

Gosto muito do Gessinger e acho que ele também gosta de mim. É uma parceria tranquila e criativa, já fizemos mais de 100 shows e ainda estamos curtindo muito.

7) Como você está conciliando a carreira da banda com esse projeto ?

A Banda está parada. Estou focado no Pouca Vogal.

8) Qual sua análise sobre o rock nacional atualmente, em especial o gaúcho ?

Fica difícil analisar o trabalho dos outros. O que eu acho que deve ser feito é o que eu faço e o que eles acham que deve ser feito eles fazem. Isso é a diversidade cultural e é importante. Acho que, as vezes, que o avanço tecnológico deixou todos mais preguiçosos. mas pode ser velhice minha.

9) Quais os proximos planos da banda dentro da música ?

Estamos sem planos. A Banda sou eu e o meu irmão Luciano. Ele está tratando um cancer chamado Mieloma Múltiplo e estamos focados na recuperação dele.

10) Deixe um recado final para todos os fãs do Cidadão Quem espalhados pelo país a fora.

Nós somos uma banda que nunca fez concessões e sempre foi fiel ao nosso próprio som. Temos uma carreira de altos e baixos e nunca estivemos no cenário principal da música brasileira. Se a gente sobreviveu durante tanto tempo com dignidade e auto-suficiência foi por causa dos fãs que nos acompanharam e nos valorizaram durante todo este tempo. Obrigado !

VOLTAR | ATUALIZAR | AVANÇAR