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A polêmica do
sertanejo universitário


Mercado passa por uma série crise de identidade ao presenciar a criação indireta de bandas pela mídia

(09/12/2008)

O sertanejo universitário, em voga desde meados de 2007, está rendendo bons panos pra manga depois das declarações polêmicas da famosa dupla Zezé di Camargo & Luciano. No início de novembro, durante a coletiva do lançamento do novo CD da dupla, ambos criticaram severamente a maioria dos ``novos sertanejos``. "Você pegar e regravar uma música de um artista de 20 ou 30 anos atrás é uma coisa. Agora, você pegar uma música que foi sucesso com aquele artista, chegou a ser música de trabalho, menos de oito anos atrás. Aquilo não é tentar fazer sucesso, é pegar carona. Saber que quando vai tocar a primeira nota e o pessoal vai sair cantando", explicou Zezé. Desta nova geração, uma única dupla que se safou das críticas de Zezé di Camargo e Luciano foi Victor e Léo. De acordo com eles, Victor e Leo são de um talento extremo e compositores de verdade. Os outros, segundo eles, não dá pra engolir. Tem gente cantando música e não gosta de sertanejo de verdade. Complicado, não é?!

Antes de começarmos a analisar mais de perto essa polêmica, temos que falar um pouco sobre o sertanejo universitário, pois devem ter pessoas perdidas que nem cego no tiroteio. Bom, esse tipo de música nada mais é do que música sertaneja tocada de uma forma diferente, privilegiando o acústico que, por ter muita aceitação com os jovens de 15 a 30 anos, ganhou a alcunha de “sertanejo universitário”. Mas o que esse estilo tem de diferente do restante do segmento sertanejo? Praticamente nada. As duplas sertanejas universitárias utilizam  o mesmo repertório e agradam o mesmo público. Determinadas músicas que fizeram ou não sucesso no passado viraram hits na boca da galera. Tem nada ver, gravada por Bruno e Marrone em 1997, estourou nas vozes de Jorge e Mateus e de mais um punhado de gente. Como um anjo, gravada por Zezé e Luciano em 1994, deu certo com César Menotti e Fabiano e com milhares de outros. Outras músicas mais clássicas, por sua vez, são regravadas por praticamente todas as duplas, como por exemplo Telefone Mudo, Pagode em Brasília, etc.

Realmente Zezé e Luciano pegaram meio pesado com essas duplas. A principio pode parecer anti-ético se referir a elas como se referiram. Mas cá pra nós: ninguém diz uma coisa dessas sem embasamento. Ainda mais quando estão na mesma barca, já que são colegas de profissão. Será que eles estão certos? Hoje eu não saberia responder a essa pergunta, pois ao meu ver a música que é tocada atualmente, seja qual for o segmento, está nivelada por baixo. Não se dá pra afirmar com total convicção que determinado artista pega carona no sucesso do outro pra ganhar dinheiro ou pra ficar mais fácil entrar no mercado. Até porque se formos levar pra esse lado, quem, nesse mercado cada vez mais afunilado e concorrido, não tá a fim de lucrar ? O músico hoje é uma profissão, assim como é o jogador de futebol. Se faz sucesso é porque tem aceitação do público, pois por mais que role o jabá ou uma divulgação maciça, é o público que vai decidir o destino do artista. Se ele for ruim, fica no ostracismo e não vende mais nada. Se for bom, fica nos topos das paradas e convive com o estrelato.

Do meu ponto de vista, o sertanejo universitário tem que evoluir e tentar fazer coisas diferentes para calar todos os críticos e mostrar que eles têm talento pra se manter na mídia. Digo isso, pois percebo, no entanto, que depois de fazer sucesso no circuito universitário, algumas duplas estão preferindo abandonar o rótulo e desenvolver trabalhos mais abrangentes. Isso está acontecendo, pois qualquer artista sabe que a cabeça do público universitário muda conforme a maré. Ontem, por exemplo, era o forró universitário. Depois vieram o pagode universitário e agora é sertanejo universitário. O forró já não vejo mais a mídia fazer uma grande abordagem. O pagode acredito que está caindo no esquecimento. Em relação ao sertanejo, a grande dúvida é se vai tomar o mesmo rumo. Com isso, a grande pergunta dessas duplas que estão mudando esse rótulo é: será que é bom pular fora do barco antes que ele afunde ?

Para que essa polêmica acabe acho que qualquer gênero tem que ser universal. Essa história de segmentar os ritmos não é uma boa. Pois se um gênero é MPB, é MPB. Se um é rock, é rock e ponto final. Não tem essa de MPB jovem, Rock Melody. A música sertaneja, por exemplo, sempre foi universal e tem de continuar assim. Não sei quem veio com essa história de universitário. Essa segmentação é perigosa, pois abre uma brecha para os ``oportunistas de plantão``prostituirem o mercado por ter dinheiro suficiente para investir, enquanto existem muitas duplas com qualidade e sem dinheiro espalhadas por esse Brasil. Falo isso sem querer ofender o público universitário, claro, até porque já fiz parte deles. Eu particularmente não acho que tenha chegado a esse ponto, pois existem boas duplas no mercado. De repente Zezé di Camargo e Luciano, vendo a facilidade que as coisas estão acontecendo, resolveram, mesmo que de forma contundente, intercederem. Mas, sinceramente, creio que eles vão ter que gritar de novo, pois da forma que a coisa tá caminhando, a moda do universitário já pegou.


Marcus Vinicius Jacobson

Jornalista e diretor do MVHP - Portal de Cifras
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