O samba finalmente se rende ao talento feminino e cada vez mais amplia o espaço da mulher no gênero

(27/03/2008)

``Agora chegou a vez, vou cantar: mulher brasileira em primeiro lugar”. Esse trecho do samba de Benito de Paula resume bem o papel que a mulher está desempenhando no atual estágio do gênero. É a redenção, propriamente dita. Na história do samba, sempre foi notório a presença constante do universo masculino. É bem verdade que Beth Carvalho, Eliseth Cardoso, Dona Ivone Lara, Alcione fazem parte desse hall com muita genialidade, mas essas já estão imortalizadas nesse movimento. O que quero chamar a atenção é a quantidade de sambistas femininas que, de uns anos pra cá, estão revertendo esse quadro e ampliando cada vez mais o papel da mulher nesse gênero. Posso citar aqui fácil algumas. Teresa Cristina, Ana Costa, Dorina, Maria Rita, Mart’nália, Marisa Monte, Zélia Duncan, por exemplo, deram uma nova cara ao samba, até então considerado machista.

É de se louvar o fato  das mulheres conseguirem reverter um quadro tipicamente masculino e erguer a bandeira do gênero com maestria. Sem dúvida toda essa transformação vai de encontro ao movimento de retomada do samba e contribui para reafirmar o ritmo como instrumento de resgate e integração de diversas culturas e gerações. Além de reverenciar a presença das mulheres na produção, interpretação e disseminação do gênero. A participação das mulheres no samba não se restringiu somente à beleza e à sensualidade. O chamado "sexo frágil" que, por muitas vezes, serviu de inspiração para ilustres poetas também estrelou vários sucessos e, ainda hoje, encanta os ouvidos atentos e sensíveis. Que diria Ataulpho Alves, Mário Lago e Noel Rosa. Lá no céu, eles devem estar felizes pelo samba ter se rendido ao talento das eternas musas.

Mulher no samba é um sinal dos tempos. Não tenho dúvida alguma em afirmar que este espaço está definitivamente sendo conquistado pelo universo feminino. O samba sempre está pedindo passagem e como um patrimônio histórico merece ser formado por uma constelação de estrelas. Os mais recentes trabalhos de Teresa Cristina e Maria Rita, por exemplo, demonstram toda essa força do feminismo no gênero. São sambas feitos na medida para vozes suaves e afinadas como essas, demonstrarem toda força dessa cultura. Elas, juntamente com outras artistas que estão chegando agora, acrescentam musicalidade, carisma e talento a todo esse cenário de bambas.

A mulher chegou de mansinho, no miudinho e conseguiu traduzir sua mais bela essência em letras de samba. Na história desse gênero sempre ficará registrado o apogeu feminino. Os tempos são outros minha gente e ``no sapatinho`` elas vão mostrando sua verdadeira raiz.  A cantora Joyce estava certa quando escreveu Samba de Mulher. ``Mulher que é mulher sabe o que tem/Mulher que é mulher disfarça bem
/Não fala o que pensa pra ninguém...``Com a palavra, elas !