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Vivendo de música no Brasil


Mercado cada vez mais afunilado e com poucas oportunidades põe em cheque a carreira de músico

(09/10/2007)

Viver da música ou sobreviver da música? Eis a questão. Num cenário onde a concorrência é acirrada, a pirataria domina e as novas tecnologias aparecem cada vez mais a constatação que chegamos é que viver de música no Brasil é privilégio para poucos. Hoje o músico tem de saber ser músico e ir mais além. Não que ele não precise ser ambicioso, mas não pode pisar na mídia e ficar imaginando rapidamente o estrelato, shows em estádio, entrevistas na TV. Por incrível que pareça isso é mais difícil do que ganhar na loteria. Num país, onde o jabá tem força total, a coisa tende a piorar e se você não tiver toda uma estrutura por trás, vai ficar perdido igual a cego em tiroteio. Essa é a realidade nua e crua em que vivemos e somos submetidos hoje em dia.

Eu não escondo nada e não tô aqui pra alimentar ilusões. Trabalho com consciência e fatos reais. Portanto, minha gente, não podemos ser ingênuos. O amor à música não enche a barriga, não paga o aluguel. Se quiser viver da música tem que encarar a coisa de uma maneira super profissional. Se você quiser ficar se divertindo com a arte e achar que dessa árvore vai nascer frutos, é bom você tirar o time de campo, pois hoje, se a gente pensa ser alguma coisa ou ganhar alguma coisa, temos que ser versáteis.

É bem verdade que viver de música no Brasil nunca foi fácil, mas hoje está muito pior. Os lugares onde o músico pode se apresentar, em sua maioria, não oferecem contrato, nem pagam um valor justo para o artista. Querem que ele trabalhe à base do couvert artístico, que é o valor adicional cobrado, por pessoa, nos bares com apresentação de música ao vivo. E quando se trata de lançar Cds no mercado, tem sempre as pessoas que querem levar vantagem. Nós, os responsáveis pelo sucesso, acabamos ficando no vácuo e esquecidos de uma maneira muito cruel.

O único agravante disso tudo é que vejo pessoas que vivem de determinado gênero penar para ganhar a vida com a música. Mas aí já é um problema estrutural em nossa mídia que só privilegia determinados ritmos. O punk, o chorinho, por exemplo, vejo muito mal divulgado nas rádios. E os profissionais ali envolvidos, se não tiverem oportunidades, acabam esquecidos no meio do caminho e passarão fome, pois é visível o desinteresse nesses segmentos.

Mas temos que continuar acreditando e procurar opções pra reverter esse quadro. Até porque se a gente parar pra pensar, em todas as áreas de atuação temos uma grande dúvida se vamos conseguir viver daquilo. Isso serve para engenheiros, jornalistas, médicos, etc. Portanto o negócio é não deixar a peteca cair. Dedicação e treino são indispensáveis para qualquer músico. Não são garantias de sucesso, mas são estimulantes.  Não podemos dar lugar para o desânimo. Ainda existem oportunidades de trabalho para músicos tão seguras e rentáveis quanto em outras profissões. As orquestras sinfônicas são bons exemplos. É possível atuar como maestro ou instrumentista. Os salários maiores do país giram em torno de R$ 5 mil. Isso sem falar que podemos nos preparar melhor para ser professor, músico de estúdio, arranjador, sideman, dar workshops, etc. Afinal, temos que acreditar que podemos viver de música. Fazer sucesso é consequência.


Marcus Vinicius Jacobson

Jornalista e diretor do MVHP - Portal de Cifras
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