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A criminalização
do Jabá


Guerra contra a propina na música volta à tona depois das declarações do Ministro da Cultura

(12/09/2006)

E o jabá continua dando o que falar. O pagamento feito às rádios para que toquem determinadas músicas, considerado a propina musical para alavancar a carreira de determinado grupo ou artista, voltou à tona com força total depois das declarações do Ministro da Cultura Gilberto Gil no início desse mês. Para quem não sabe, em entrevista coletiva sobre seu novo disco, Gil abordou o assunto dizendo que acha difícil tornar a prática um crime . Segundo ele há formas de se burlar a fiscalização, já que o jabá pode virar um mensalão facilmente. Além disso ele relativizou a argumentação de que a rádio é uma concessão pública, e por isso não pode ser usada dessa forma. "Elas são públicas 'pro forma', porque na prática são estruturas negociais, privadas. O espaço não é da rádio, mas é concedido a ela para uso comercial. A rádio tem o direito à comercialização. O que se discute é se o sub-espaço do programador pode ser comercializado", disse o cantor.

Pra início de conversa, com esse argumento de que a fiscalização é difícil, sinceramente fica extremamente complicado qualificar qualquer coisa como crime. Acho que Gil, como figura exponencial e representante da classe artística, deveria se impor e discutir metas e prioridades para alavancar esse movimento contra o jabá. A mesma atenção dada ao combate contra a Pirataria deveria ser posta em prática nesse caso. É inadimissível assistirmos a tudo passivamente e tirar a responsabilidade das rádios. É preciso estabelecer os limites dessa comercialização.

Li numa reportagem o depoimento da cantora Bia Grabois, do Movimento Pelo Fim do Jabá, e concordei em número, gênero e grau com o que ela falou sobre essa polêmica.``O artista não pode chegar numa rádio e ouvir o programador falar: "Gostei de sua música, podemos tocá-la aqui se você me der 20 shows em troca". Isso virou uma questão cultural, até rádios comunitárias entram nessa prática``, disse Bia disse com muita propriedade.

Outro ponto mencionado por Gil em sua entrevista e que merece ser destacado é a necessidade da criação de uma agência reguladora para o setor. O cantorl se mostrou ressentido com o fato de a tentativa de criação desse órgão para o setor ter sido recebida como uma tentativa de dirigismo cultural por parte do Estado, um mecanismo de censura. Ao meu ver é necessário sim ter uma agência reguladora, mas num perfil estrategicamente bem definido. É de vital importância contar com o apoio de representantes de diferentes setores da sociedade. Não pode ser um aparelho do Estado, porque aí a liberdade pode ser cerceada.

No meio desse tiroteio uma coisa é líquida e certa: sociedade, artistas, governo, empresários têm de se unir e criar mecanismos para por fim a esse câncer da música denominado jabá. Essa propina é o maior mal que existe na música nacional. É sem dúvida nenhuma o maior mensalão do meio musical. Nesse específico,  não podemos deixar que vire uma grande pizza. Caso contrário, tudo ficará na mesma.


Marcus Vinicius Jacobson

Jornalista e diretor do MVHP - Portal de Cifras
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