A coluna musical mais comentada da Internet !

Funk é Cultura ?!


Governo abre polêmica ao mandar para o exterior uma funkeira representando nossa cultura

(11/11/2004)

Algumas semanas atrás estava folheando o jornal antes de começar mais uma jornada de trabalho quando me deparei com uma notícia que me deixou estupefacto: ``Tati Quebra Barraco faz turnê na Europa representando a cultura (e o feminismo) brasileiro``. De acordo com o jornal, a  turnê nasceu de um convite feito diretamente à MC pelos organizadores do Ladyfest, um festival feminista de Stuttgart. Eles queriam a artista como representante da cultura brasileira. Mas Tati e  Cabbet Araújo, produtor da turnê,   tiveram que gastar um bom tempo tentando convencer o Ministério da Cultura, que pagou as passagens da cantora, de que o funk também é cultura. Já estava escrevendo uma coluna sobre outro assunto, quando resolvi deixar ela em segundo plano e me concentrar somente nesse tema, até porque uma polêmica como essa eu não poderia fazer pouco caso. Afinal, esse funk de hoje é cultura ?!

Eu, com toda tranquilidade, posso afirmar que não. O que é praticado hoje em dia não pode ser conceituado como cultura. Como versos recheados de ``neofeminismo`` como "Vou comer o seu marido" e "Eu tô podendo pagar motel pros homens", "Sou feia mas tô na moda" e "Dako é bom" (referência de duplo sentido a uma marca de fogões) pode representar a rica cultura brasileira no exterior?! É no mínimo descabível ! Se contarem lá em Portugal, os portugueses é que vão fazer chacota da gente!

Quero deixar bem claro que eu não tenho nada contra a cantora e o tipo de som que ela faz, até porque cada um ganha dinheiro com aquilo que sabe fazer e sabe criar. Só acho que o Brasil tem muitos gêneros que representariam dignamente a cultura de um povo como o nosso sem precisar recorrer ao funk e abrir essa polêmica toda na sociedade. O Funk de hoje é moda ou tendência, mas cultura brasileira é Bossa Nova, Samba, Chorinho, Forró. É só abrir a página da história da música Brasileira, que veremos compositores como Pixinguinha, Cartola, Vinícius, Tom Jobim, Ari Barroso, Chico Buarque... Com certeza poderia demorar horas aqui citando nomes fabulosos, que, estes sim, representam a boa música e a cultura do nosso país.

Patrocinar as passagens da Tati Quebra Barraco foi demais pra deixar passar em branco. O Governo não poderia ter encarado o funk ao pé da letra. O Funk pode até ser cultura, mas o que é feito aqui no Brasil, na atualidade, não passa nem perto disso. O estilo de música Funk, originado nos Estados Unidos, é uma mistura de jazz, blues e soul e caracterizado pelo rítimo pesado e repetitivas batidas graves. Trata-se de um movimento elitista e o movimento das favelas, dos grotões. Porém, o dito "funk" dos palavrões, das letras sexistas, dos insultos, o funk que não passa mensagem alguma, não creio que isso represente o movimento funk original, aquele da realidade das favelas, da marginalização, enfim o cunho social do movimento.

Na minha opinião, o Brasil poderia ter um representando a altura lá fora, não com as migalhas do que se tornou o funk atualmente. Uma disrritimia pornográfica que, através das letras, faz com que as mulheres voltem as bases do tempo medieval. Vulgar seria a expressão mais adequada. Você, mulher brasileira, se sentiria honrada em se ver diminuída, inferiorizada como pessoa, em formas de versos de música ainda mais como representante lá no exterior dessa grande nação brasileira? Acho que nem precisa ser mulher pra responder isso. Basta ser coerente...


Marcus Vinicius Jacobson

Jornalista e diretor do MVHP - Portal de Cifras
Sugestões de temas, ou elogios e críticas a esta coluna
envie um e-mail para redacao@mvhp.com.br

VOLTAR | ATUALIZAR | AVANÇAR