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Cazuza:
o tempo não pára


Filme sobre Cazuza homenageia o cantor e nos dá a certeza do que foi o verdadeiro rock

(15/06/2004)

O momento não poderia ser melhor pra falar sobre um dos maiores poetas do rock brasileiro: Cazuza. Acaba de chegar às telas de todo o país o filme que retrata toda trajetória do polêmico artista nos remetendo ao passado e deixando a todos saudosos por aquele período de riqueza musical. Dirigido por Sandra Werneck e Walter Carvalho, e inspirado nos depoimentos do livro "Só As Mães São Felizes", de Lucinha Araújo, sua mãe, Cazuza - O tempo não pára consegue reviver toda vida de um dos mais importantes cantores e compositores do rock nacional dos anos 80 e 90 de maneira nua e crua. Os ricos detalhes de sua infância, a juventude, os amores, o início da sua carreira nos palcos do Circo Voador, em 1981, o estrondoso sucesso alcançado junto com os amigos do Barão Vermelho, a carreira solo, a sua luta corajosa contra a doença que o vitimou nos dá a certeza de que o poeta não se foi: ele continua mais vivo do que nunca em nossa memória e principalmente pra música popular brasileira.

Hoje em dia é difícil encontrarmos um monstro da música como foi Cazuza. Possuidor de uma identificação sem igual com o público, Cazuza imprimia em suas canções os anseios de uma geração, se destacando pelo comportamento transgressor e, tempos depois, pela coragem de continuar a carreira, criando e se apresentando, mesmo debilitado pela Aids. O ``exagerado`` e a sua meteórica passagem pela música brasileira foi muito bem retratada nesse filme que promete reacender nos eternos fãs que viveram aquela época a chama da rebeldia desse artista, que partiu muito cedo ``num trem para as estrelas``. Quem assiste ao filme tem reações diferentes em termos de emoção, porém todos têm a mesma certeza: de que a música de Cazuza é insuperável. Podem falar o que quiser, mas o rock que é praticado hoje em dia é totalmente fora das origens. É algo comercial e sem poesia. Cazuza sabia como ninguém fazer música de verdade. Vendia escrevendo aquilo que tinha vontade. Não era um ``pau mandado``.

Se fosse vivo, Agenor de Miranda Araújo Neto teria completado 46 anos no dia quatro de abril de 2004. Quase 14 anos após a sua morte, o mestre Cazuza ainda é referência para qualquer artista que inicia na carreira ou que se mantém. Autor de músicas marcantes, suas composições vêm sendo regravadas por diversos artistas. Caju, como era chamado pelos mais íntimos, falava em seus versos sobre dores, sofrimentos, paixões e, ainda, dava o depoimento de sua geração sobre as questões sociais do Brasil. Tudo com uma pitada polêmica que só ele sabia fazer. E o resultado disso foi uma carreira solo muito bem-sucedida, com cinco discos lançados em quatro anos. Além do álbum de estréia “Cazuza, exagerado”, “Só se for a dois”, de 1987; “Ideologia”, do ano seguinte; e ainda “O tempo não pára” e “Burguesia”, este seu único álbum duplo.

Cazuza também servirá como referência pra sociedade. Ele foi o primeiro artista brasileiro a assumir publicamente que tinha Aids. Um gesto de atitude, sem dúvida, pois não é qualquer pesssoa conhecida que se expõe publicamente para admitir que era soropositivo. Dessa forma, ele acabou colaborando para a campanha de conscientização sobre a doença, sensibilizando muitas pessoas. Lógico que Cazuza poderia ter vivido mais. A maneira como ele encarava a vida era um tanto perigosa. O cantor gostava de correr riscos, romper limites e vivia apegado à boemia, bebidas e drogas. Mas essa era a vida que ele escolheu. Não podemos crucificá-lo por essas atitudes, mas sim tentar compreender suas razões de uma forma natural.

A obra de Cazuza emocionou e vai continuar emocionando toda uma geração carente do verdadeiro rock. Aquele rock transgressivo e debochado, marca característica do poeta. Esse filme chegou na hora certa. É uma justa homenagem pra esse homem que, ao lado de Renato Russo e Raul Seixas, revolucionou o rock brasileiro com uma sutilidade que não tem tamanho. Suas mensagens ficarão guardadas em nossa memória pra sempre. Ao falecer, em sete de julho de 1990, Cazuza deixou saudades, mas a certeza de que é um artista para quem o tempo não para, não pára, não, não pára...


Marcus Vinicius Jacobson

Jornalista e diretor do MVHP - Portal de Cifras
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