na criação

Aristas deixam de lado suas vontades para criar obras impostas pelo mercado

(05/02/2004)

Que a música brasileira está carente de renovação isso todo mundo sabe. Mas uma das coisas que acontece direto nesse meio e que muitos desconhecem é a falta de liberdade para criar e divulgar aquilo que partiu de nós e que julgamos de valor. Muitos artistas são submetidos a essa pressão sempre que estão produzindo um novo trabalho. Eles podem negar até a última hora, até porque são empregados dessas multinacionais que comercializam música, porém nas entrelinhas essa prática evidentemente existe. O artista hoje é moldado para atingir determinada meta, mesmo que essa meta vá contra seus príncípios.

As provas estão aí no mercado. Basta escutar as músicas divulgadas pelas emissoras e notar que a maior parte é composta por canções fabricadas pra vender, mesmo que a obra em questão seja simples e com versos prejorativos. Dificilmente vamos ver um artista com total liberdade pra criar e compor um álbum todo da maneira que ele tem em mente. Sempre ocorrerá uma pressãozinha aqui, outra pressãozinha ali, de maneira que ficamos refém das gravadoras.

As interferências nos trabalhos dos músicos existem sim, só que uma grande parcela tem de ficar calado e aceitar, afinal o que interessa não é o dinheiro e a fama? O negócio é Money no Bolso e mais nada. As gravadoras, em parceria com as rádios e TVs, tentam impor estilos musicais e posso dizer que estão conseguindo, pois basta a música ter um refrãozinho empolgante que logo logo vira hit do momento. Quero deixar claro que acho saudável que a indústria pontue de alguma maneira a escolha do repertório, mas não que ela decida. As opiniões são válidas e construtivas, agora interferir no que o artista quer criar é inaceitável.

Ao meu ver o compositor está mais protegido desse tipo de pressão do que o cantor atualmente. Pois quando o cara tá compondo, ele se isola e fica dono de si, dono daquela obra. Nada e ninguém interfere. O único problema é na hora que essa música chega nas mãos do encarregado da decisão e seleção. Se não for uma música que encha os olhos e esteja fora dos ``padrões atuais`` essa canção é descartada de uma maneira nua e crua, sem piedade. Com isso, os bons compositores que temos ficam afastados daquele ambiente e são obrigados a criar uma coisa a contragosto, apenas no sentindo de ver seu trabalho ali interpretado por algum cantor. Hoje a pressão das Gravadoras interefere de maneira inconsciente no trabalho dos compositores. Quem não se enquadrar tá fora.

Não pretendo me alongar mais nesse tema, pois é algo que está na cara e só quem pode discorrer melhor, apresentando exemplos, são os próprios artistas. Enquanto eles continuarem calados aceitando essas imposições, temos que ficar escutando essa monte de música descartável que anda sendo divulgada por aí. Só não sei até quando nossos ouvidos vão aguentar isso!