Acomodação e falta de ousadia dos donos de Gravadoras agravam crise no mercado

(04/03/2003)

Que o mercado fonográfico nacional passa por uma série crise isso tudos nós sabemos. Mas será que só a pirataria é que é a grande culpada por essa situação? E os homens das Gravadoras não têm culpa no cartório? Devemos nos atentar que a situação é grave por mais que tudo pareça um mar de rosas. Ao meu ver os poderosos estão pensando somente nos respectivos bolsos e esquecendo que a crise não é econômica e sim de valores. O mercado musical brasileiro passa por uma grave crise de identidade. Se exemir da própria culpa e jogar a responsabilidade pelo fracasso desse segmento na pirataria é olhar para o próprio umbigo e fingir que nada está acontecendo.

O péssimo desempenho deste segmento nos últimos tempos não se deve grande parte à pirataria, mas sim a falta de renovação na música brasileira. E se não há renovação a culpa é dos donos das Grandes Gravadoras que, além de estimularem a pirataria colocando no mercado, Cds (alguns mal produzidos) caros e utilizarem práticas baixas como o uso generalizado do "jabá", isto é, a propina paga aos donos e/ou aos programadores das rádios e televisões para que promovam uma determinada música, não fazem mudanças e não buscam novos artistas, alguns muito superiores ao que estão sendo oferecidos pela mídia. Em falar em jabá, acabei esquecendo de mencionar o "neojabá", que nada mais é do que as promoções para divulgar determinada música do artista usando brindes, cedidos por eles, a serem sorteados pela emissora.

Mas isso é uma outra história. Vamos nos ater aqui somente ao que diz respeito à falta de renovação na música brasileira. É inacreditável como as Grandes Gravadoras não dão chances aos artistas que estão surgindo por aí. Eu que, particularmente, trabalho com seleção de novos talentos para mostrar no MVHP, escuto trabalhos de primeiríssima qualidade. Eu mesmo me sinto mal, por não poder dar espaço a todos na hora que eles querem. Artistas com voz potente, praticamente prontos pro mercado. Isso sem falar nas próprias composições que são o prato principal deles. Ou seja, artistas com bastante versatilidade que cantam, interpretam e compõem maravilhosamente bem. O que será que estão faltando a esses profissionais da música? Lógico que o famoso empurrãozinho. Mas esse empurrãozinho é nada mais nada menos que abrir a porta pra que eles possam mostrar esse trabalho que é feito.

As pessoas só vão saber se algo é bom ou ruim experimentando, não é mesmo? Pois bem, é isso que falta aos donos das Grandes Gravadoras. Resgatar a ousadia, o talento e reconstruir esse mercado afetado pela covardia e pela acomodação. Coragem não faz mal a ninguém. Muito pelo contrário, ajuda e muito. As pequenas e médias gravadoras, por exemplo, estão fazendo um trabalho bonito e digno de aplausos. Estão tendo muita criatividade para resgatar nomes e lançar talentos que, inclusive, tem repercussão internacional. Antes de procurar combater a pirataria vamos nos preocupar mais com a qualidade da nossa música. É hora de apagar tudo o que foi feito até agora no mercado fonográfico e reiniciar do zero. É dando que se recebe, pessoal!