Mercado abre as protas novamente para um ritmo que não acrescenta em nada

(25/01/2003)

Atenção adoradores da boa música, preparem seus ouvidos, pois o ´´Funk`` está voltando de novo à mídia. Aproveitando a onda da Eguinha Pocotó, vários outros grupos e artistas desse movimento estão pegando carona nesse hit e tentando se aproximar do mercado novamente. E pra gente que gosta de música de qualidade temos que nos contentar ouvir versos como ``Vou mandando um beijinho/Pra filhinha e pra Vovó/Só não posso esquecer/da minha eguinha Pocotó/Pocotó Pocotó Pocotó / minha eqguinha Pocotó``. Cruel, né? Pra quem viveu a fase áurea da música escutando desde Tom Jobim até Chico Buarque deve estar se perguntando o que fez de errado pra ter que aturar isso. Pode ficar tranquilo que você não jogou chiclete na cruz não. Isso é culpa única e exclusivamente da mídia em geral que permite que gêneros como esse sejam veiculados nas programações de Rádios e Tvs.

Além de termos que nos contentar com o lixo musical que é depositado em nossos ouvidos ainda somos obrigados a aturar que a mídia considere essas músicas formadas por Tchutchucas, Cachorras e Lacraias de Funk. Nossa, quanta crueldade com esse movimento. Há oportunistas que diluem e esvaziam a essência original do funk, roubando-lhe o nome para denominar um estilo grosseiro de uma batida eletrônica rudimentar e um discurso meio falado, meio cantado, de falsos MCs (MC= "mestre-de-cerimônia"), alguns deles exaltando a violência e qualquer baixaria (vide Bonde do Tigrão, Vanessinha Pikachu, SD Boyz e outros, no Brasil, e Ba-ha Men, nos EUA). O verdadeiro Funk, representado por artistas como George Clinton, James Brown, Kool & the Gang, Afrika Bambaataa e congêneres é uma mistura de Soul e Disco Music. Foi muito popular na virada da década de 70 para a de 80.

O verdadeiro funk do Brasil tem suas raízes nos bailes blacks dos subúrbios cariocas dos anos 70, época em que o estilo era realmente cheio de groove e alma. O DJ Big Boy era seu maior e animador e grande voz do funk no país era Gerson King Combo, um ícone da música black. A popularidade do funk chega a superar, e muito, o rock, uma vez que este rumou para tendências mais radicais e difíceis que agradam mais a públicos selecionados. O funk pode não ser teoricamente massificado, mas, em compensação, contagia muitas mentes musicais, por ser um ritmo dançante, alegre e por vezes sensual e vibrante.

Foi legal eu ter colocado isso aqui, pois vocês que ouvem diariamente Rádio não estão cientes da origem de determinados gêneros musicais. Quem imagina que o ritmo funk consiste apenas numa "batida eletrônica com amadores cantando" se engana completamente. O que é conhecido como "funk" no Brasil, na verdade, trata-se do miami bass, inventado pelos negros de ascendência latina no Sul da Costa Leste dos EUA. Funk é muito superior a isso. O funk autêntico exige bons músicos e letras bem elaboradas. Não um bando de refrão com termos pornográficos e agressivos. Se cuida Bonde do Tigrão, MVHP também é cultura !