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A via crúcis
do músico de bar


Saiba tudo que ocorre com o músico da noite, desde a sua preparação passando pelas conquistas e decepções

(01/06/2017)

Muitas de nossas colunas abordam assuntos bem polêmicos dentro da música. Mas um em especial tem uma grande aceitação por parte do público: o músico de bar. Já foi falado aqui anteriormente o que seria esse profissional, a sua importância em cantar na noite, o repertório musical apropriado, as saídas desse artista para driblar a crise que assola o mercado, enfim, tópicos úteis para quem faz ou pensa em fazer parte desse universo. Pensando nesse apelo e na massa de leitores que gosta desse assunto, volto a escrever mais uma coluna sobre esse verdadeiro artista. Dessa vez vou focar como é um dia do cantor de barzinho,  sua preparação, o que ele pode vir a encontrar de bom e de ruim e as curiosidades que fazem parte desse cotidiano. Mãos à obra !

Bom, antes de esclarecer essas dúvidas que muitas pessoas tem quanto a isso é necessário dizer que pra ser músico de bar você precisa inicialmente gostar do que faz e jamais ficar pensando em lucrar. Isso é consequência de seu bom trabalho meu caro. E só se dá bem na vida quem trabalha com dedicação, afinco e amor. Certamente depois colherá os frutos. Se já fazendo tudo dessa forma é um caminho árduo, imagina se não fizer ? Além disso, aliado a essa vontade, você precisa de toda uma preparação. Não pense que só porque acha que sabe tocar, vai chegar lá e fazer bonito. Ledo engano ! O músico da noite precisa descansar sua voz, focar no perfil de seu público pra encontrar um repertório que agrade a ele, verificar todo dia como anda seus equipamentos, chegar bem mais cedo ao local pra já ir interagindo com o ambiente e passar o dia alinhado mentalmente, pois cantar pros outros exige uma excelente concentração.

Agora você precisa saber que seu dia a dia da noite vai ser cercado de lições, coisas proveitosas e muitas furadas que podem botar tudo a perder. O barzinho ao mesmo tempo funciona como uma escola como também um calvário. Lá você vai saber aprender a interagir com o público adquirindo humildade e ter uma receptividade sincera de seu trabalho, pois é uma platéia leal. Se você for ruim, vai sentir na pele. E com isso, saberá onde melhorar. Além do mais, é nesse local que você começa a desenvolver técnica, repertório, concentração, resistência e muitas outras coisas boas pra sua profissão. Como você pode ver, dá pra tirar muito proveito ao cantar na noite.

Mas as coisas ruins também existem e se você não estiver preparado é engolido. Geralmente há um horário definido para começar, mas não para acabar. A média de horas trabalhando direto, com poucos ou nenhum intervalo, é de 4 horas. E muitas partes do público não respeitam. Acham que você está ali por hobby. Não vêem aquilo como um trabalho profissional e que precisa, portanto, de remuneração. Com isso o nível de exigência fica acima do limite. O cantor é praticamente obrigado a saber todas as músicas que forem pedidas. Se não souber, corre o risco de não receber o couvert (opcional) de quem fez o pedido, porque muitas vezes o cliente se sente no direito de não pagar caso o cantor não saiba a música que ele pediu. Além do mais você tem que se deparar com situações incovenientes. Na maioria dos lugares não há camarim, alimentação adequada e banheiros em bom estado. Às vezes, até a água que o cantor bebe é descontada no cachê.

Em falar em cachê esse é totalmente miserável. E se bobear em muitos casos o couvert não é integralmente repassado ao cantor. Muitos bares combinam com os artistas um cachê fixo e cobram o couvert dos clientes, chegando a receber quase 5 vezes o valor combinado com o cantor, dependendo do local. É claro que nos dias “fracos”, o cachê combinado é bem menor. Isso sem falar que o dono do bar geralmente faz a vontade do cliente e acaba cedendo quando o mesmo reclama da música ou do couvert. Afinal ele não quer perder clientela. Pra piorar o músico é  obrigado a investir num equipamento de som de qualidade para não ouvir reclamações. Ele tem que controlar o volume do som de modo a ficar bem baixo, já que muitas cidades têm leis do silêncio que precisam ser respeitadas. Acaba que o público não interage, já que quanto mais baixo o volume, menor a quantidade de pessoas prestando atenção em quem está cantando, haja vista o falatório incessante desse tipo de lugar. Ouvir palmas, então ? Ham, deixa pra próxima !

De qualquer forma cantar em bar tem seus percalços, mas é necessário. Por isso todos que passaram pela noite antes de chegarem ao estrelato não cansam de dizer que passaram por uma verdadeira escola. Quem não tem dinheiro para investir numa carreira sólida e bem estruturada, junto com rádios e apenas com grandes shows, acaba tendo que se inveredar por esse caminho mesmo. O bom é que, quando o público é receptivo e gosta do seu trabalho, chega a ser gratificante cantar nessas condições. Ter seu nome elogiado e referendado para outras casas noturnas não tem preço. E em falar nisso, não entre nessa profissão pensando logo no dinheiro. Um dia quando era muito novo, tive um conselho profissional de um antigo chefe que era mais ou menos assim: quer ficar rico? Pegue uma profissão que ninguem mais saiba fazer ! Fica a dica.

 


Marcus Vinicius Jacobson

Jornalista e diretor do MVHP - Portal de Cifras
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