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O renascimento do
pagode dos anos 90


Bandas e artistas que fizeram sucesso no momento auge do pagode retornam ao mercado para um revival do gênero

(14/02/2014)

Sapatos lustrosos, camisas estampadas, calça agarrada, cabelo raspado ou descolorido e óculos escuro na cabeça. Tudo isso aliado aos versos melosos como "Lua vai iluminar os pensamentos dela..." ou "Eu me apaixonei pela pessoa errada, ninguém sabe o quanto que eu estou sofrendo...". Para quem vivenciou esse período se lembra bem do que estou falando. Pensou ? Pois é, essa é a década de 90, o momento na qual as rádios brasileiras se renderam ao pagode romântico. O surgimento de nomes como Raça Negra, Só Pra Contrariar, Art Popular,Exaltasamba, Katinguelê e tantos outros ajudou a fazer do estilo o dono da preferência popular. Com a queda do império fonográfico, na década de 2000, os grupos foram minguando. Muitos continuaram na estrada, mas com novos integrantes e mudanças na sonoridade. O Exaltasamba, com o Thiaguinho no lugar de Chrigor, foi quem sobreviveu da melhor maneira possível, gravando discos, DVDs e emplacando sucessos nas rádios. Os próprios ex-integrantes lançaram projetos solos, mas à revelia do público que possuíam.

Mas mesmo o tempo tendo passado e com ele o surgimento de novos artistas do segmento, a turma que abriu o caminho para o pagode há mais de 20 anos não perdeu espaço no coração do público. Sem lançar uma novidade marcante nos últimos tempos, o gênero se mantém vivo com o revival de bandas que marcaram a época. A formação original do Só Pra Contrariar, por exemplo, se reuniu para que seus hits -- "Que Se Chama Amor", "Meu Jeito de Ser", "Depois do Prazer" e "A Barata"-- voltassem à realidade nua e crua. Alexandre Pires está novamente à frente do grupo, após experimentar, nos últimos 11 anos, um grande prestígio internacional. A turnê atual já é um sucesso, tanto que  rendeu CD e DVD ao vivo e foi estendida até 2015. Os Travessos, grupo liderado pelo vocalista Rodriguinho e que lançou o primeiro disco em 1999, também anunciou turnê para este ano. 

Pegando carona nesta popularidade inquestionável e em memória ao sucesso que o pagode romântico alcançou nos anos 90, três ícones daquela geração decidiram abraçar o gênero e mostrar que ele está voltando e continua mais vivo do que nunca. Chrigor, ex-vocalista do Exaltasamba; Salgadinho, que liderou o grupo Katinguelê; e Márcio Art, um das peças chaves do grupo Art Popular criaram o Projeto Amigos do Pagode 90, que recorda os clássicos desta época. Em um único palco, os três artistas estão rodando pelo país realizando shows e tocando sucessos até 2015. Chrigor cantará os hits “Desliga e Vem”, “Telegrama” e “Me Apaixonei Pela Pessoa Errada”; Salgadinho relembrará os sucessos de “Recado a Minha Amada”, “Inaraí” e “No Compasso do Criador”; e Márcio Art embalará o show com as famosas músicas da época em que comandava o grupo Art Popular ao lado de Leandro Lehart, como “Temporal” e “Valeu Demais”. Além dos shows, o projeto será gravado em disco, contendo os principais sucessos do pagode romântico. A direção do projeto também conta com um dos representantes do samba e do pagode da década de 90. Conhecido como Pezinho, Alex Theodoro Ferreira é o organizador do “Amigos do Pagode 90 e assina várias canções que já estouraram nas rádios, como “Tá Vendo Aquela Lua” (Thiaguinho), além de gravar hits com Belo, ex-vocalista do grupo Soweto.

Eu vivenciei essa época e não tenho vergonha em dizer que guardo todos os meus Cds até hoje, pois esse tipo de pagode faz falta. Não que os de hoje sejam uma porcaria. Mas falta aquele toque melódico característico do romantismo dos anos 90. Quem nunca se emocionou com refrãos como ``Você jogou fora o amor que eu te dei, o sonho que sonhei, é tarde demais, que pena..`` ou ´´Não sei dizer, o que vou fazer, pra me livrar desse amor. Eu quero é mais, viver em paz e ser feliz seja como for...``? Músicas como essas do Raça Negra foram pioneiras desse movimento. O grupo até hoje segue firme na estrada e é considerado, guardado as devidas proporções, uma espécie de Beatles do gênero. O show transmitido no dia 25 de janeiro desse ano pelo Multishow é um exemplo desse sucesso e carisma. A banda conquistou uma audiência e comoção invejáveis. No Twitter, a hashtag #RaçaNegranoMultishow ficou entre os assuntos mais comentados.

Interessante saber que as músicas amadas e odiadas na mesma proporção ganham, agora, novos holofotes, chamando atenção e admiração, inclusive, de roqueiros que até então tinham uma rivalidade com o pessoal do pagode. Hoje, já tem grupo até colocando pagode na versão do rock. No começo desse ano, a banda cuiabana Vanguart , por exemplo, fez um vídeo descompromissado no youtube tocando "Cilada", do Grupo Molejo, ao lado do cantor e ex-Rebelde Chay Suede. A versão arrebatou corações e foi sucesso nas redes sociais, espaço onde o próprio Molejão se reinventou. Em falar em Molejo, seria interessante nesse momento a volta desse grupo em sua formação original. Muito legal seus trocadilhos misturados com temas infantis.

Para finalizar, acredito que o pagode rompeu barreiras e conseguiu atingir um amadurecimento que fez com que as pessoas adquirissem respeito pelo gênero. Muito disso, devemos a esses grupos que mencionei em minha coluna. Sem eles, esse universo não seria possível. Quando você iria imaginar sucessos do Raça Negra idealizados por bandas de rock e indie pop atuais ? Isso mostra o reconhecimento e credibilidade do gênero.Nos dá também a certeza que o público continua buscando a música dos anos 90. Podem comemorar, o verdadeiro pagode está de volta !


Marcus Vinicius Jacobson

Jornalista e diretor do MVHP - Portal de Cifras
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