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O adeus ao eterno exagerado


Ezequiel Neves, produtor que revelou Cazuza, morre no Rio na mesma data do aniversário de morte do roqueiro

(13/07/2010)

Dia 07/07/2010. Há exatamente 20 anos atrás morria o popstar Cazuza deixando a música brasileira mais triste e menos rica. No dia em que o Brasil lembra o aniversário da morte de Cazuza, uma notícia estarrecedora, pelas coincidências da vida, se  tornou, no Twitter, o número 1 no Trending Topic do Brasil e o número 3 do Mundo, só perdendo para os jogadores da seleção espanhola Xabi Alonso e Iker Casilla. A música estava dando adeus também a outro parceiro e produtor responsável pela carreira do cantor: Ezequiel Neves. O produtor morreu aos 74 anos, em decorrência de um tumor no cérebro, diagnosticado há 5 anos. Ele estava internado há seis meses na Clínica São Vicente, na Gávea, Rio de Janeiro. Ezequiel acompanhou a carreira do Barão, do qual produziu todos os discos desde o início,e também foi parceiro musical de Cazuza em algumas canções, como Exagerado, Por que a gente é assim e Codinome beija-flor. Além disso foi o responsável por achar no rebelde roqueiro o talento que estava escondido no então garoto. De grande incentivador do cantor e compositor, Ezequiel também se tornou um de seus melhores amigos e parece que Papai do Céu reservou essa data em especial para marcar a trajetória de 2 pessoas que se complementavam.

Sem dúvida uma ironia do destino. A nós, que vivemos de música, só nos resta a lamentar. Ezequiel foi um dos maiores incentivadores do rock brasileiro nos anos 80. Por que não o pai do gênero? Made in Brazil, Rita Lee, Barão Vermelho, Cazuza e tantos outros, por exemplo, se alimentaram de sua cabeça brilhante e criativa. Assim como Cazuza, ele sempre levou uma vida desregrada e viveu como quis, no melhor estilo exagerado. Nascido em Belo Horizonte, cidade da qual não suportava o provincianismo, segundo suas próprias palavras, Zeca, como era conhecido, adorava dizer que “mineiro que não sai de Minas é porque nasceu com defeito”. Assim sendo, acabou se mudando para São Paulo, e posteriormente para o Rio de Janeiro, no começo dos anos 1960. A irreverência, o bom humor e, a ‘porralouquice’ eram algumas de suas marcas, como ficou evidenciado no filme Cazuza – O tempo não para, de Sandra Werneck - , em que ele foi interpretado pelo ator Emílio de Melo.

Neves trabalhou em uma biblioteca, foi ator, jornalista musical, produtor e empresário. Também admitia ter vivido no extremo, consumindo drogas de vários tipos e participação em orgias sexuais. Como jornalista, assinou com vários pseudônimos, além do próprio nome: Zeca Jagger, Zeca Zimmerman, em homenagem a Mick Jagger e Bob Dylan, respectivamente, e Angela Dust, que era o nome de uma droga sintética da época. Ele contou em uma entrevista para o jornal “O Globo” de 2008 que iniciou a carreira de produtor com uma banda paulista chamada Made in Brazil, em 1975. Em 1979, foi para a gravadora Som Livre, a pedido do produtor Guto Graça Melo, onde trabalhou com cantores como Elizeth Cardoso e Cauby Peixoto. Logo em seguida, saiu da gravadora, mas voltou, quando trabalhou com o Barão Vermelho.

Sem dúvida alguma perdemos uma pessoa fundamental dentro do contexto cultural brasileiro. Tinha seus defeitos assim como todos nós temos, porém era uma figura importantíssima na cena musical. Sua irreverência e o espírito provocativo, que está se tornando cada vez mais raro hoje em dia, era seu cartão de visita. De acordo com Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, ele não largou o artista nem por um minuto, principalmente quando soube que ele estava doente. Mostrou dessa forma sua lealdade com o amigo e principalmente com a música, que dependia desses bos valores descobertos. Rezemos que Ezequiel faça uma passagem iluminada e encontre seu grande amigo Cazuza e que, juntos, possam fazer muito rock and roll no ceú.


Marcus Vinicius Jacobson

Jornalista e diretor do MVHP - Portal de Cifras
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