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Os novos rumos da
indústria fonográfica


Depois de anos com milhares de vendas e altas cifragens, mercado se retrai para se adaptar aos novos tempos

(02/03/2010)

Já foi tempo em que a indústria fonográfica vivia de cifras elevadas e onde lançamentos relâmpagos estouravam com milhares de cópias vendidas. Agora o período é de vacas magras e se depender dos próximos capítulos, a coisa tende a ficar pior. Mas, calma ! Não vamos ser pessimistas. Essa tendência é uma necessidade que a indústria precisa para poder futuramente dar vôos mais altos. De qualquer forma, é extremamente preocupante esse momento que é vivido pelo mercado musical. Só pra ter idéia da dimensão do estágio que chegamos, é só fazer um paralelo entre os anos 90 e o ano passado, por exemplo. Em 90, o disco mais comercializado no Brasil naquela época vendeu cerca de 950 mil cópias. Foi dos sertanejos Zezé di Camargo e Luciano. E no ano passado, coincidentemente, o disco mais vendido entre os artistas nacionais continuava a ser o da dupla. Porém, com números assustadores: apenas 218 mil unidades.

Vale destacar que até 1998, quando teve início a crise no setor fonográfico, era comum que cantores vendessem mais de 1 milhão ou mais unidades. Até então, artistas como padre Marcelo Rossi, por exemplo, chegavam a vender com facilidade mais de 3 milhões. A crise do setor inflou-se de 1998 até aqui por conta da pirataria de CDs e a livre distribuição pela internet feita por internautas em programas de compartilhamento de dados. Em 1997, a indústria  fonográfica movimentou US$ 1,2 bilhões, tendo um total de 104 milhões de cópias – em CDs, Cassetes e LPs. Onze anos depois, o encolhimento foi de US$ 1 bi, de acordo com os dados da Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) com um faturamento de US$ 205 milhões (com CDs, DVDs e arquivos digitais). Hoje, por exemplo, o termo ‘fazer sucesso’ vai depender muito do artista e de seu direcionamento para o público. Um artista consagrado pode vender, por exemplo, 50 mil cópias de um álbum e ser considerado sucesso por isso. Um lançamento pode vender 10 mil e também ser considerado sucesso. Tudo dependerá do artista.

Essa troca de rumo veio em boa hora, pois é necessário retroceder para depois avançar. Acredito que estávamos num período surreal e agora as coisas podem tomar um caminho mais coerente. Nos anos 90 – considerada a era de ouro da indústria fonográfica –  o padrão comum era de que os lançamentos mais populares vendessem mais de 1 milhão de unidades. Hoje, esse número caiu para apenas 10%. Ou seja, se um lançamento bate nas 100 mil unidades, já é considerado sucesso pelas gravadoras. A mudança de padrões já pode ser vista até na forma como os artistas são premiados pelas suas vendas: no passado, para ganhar um “disco de ouro”, era necessário vender ao menos 100 mil unidades. Para a Platina, 250 mil. Hoje, esses valores cairam. Certifica-se “disco de ouro” para 50 mil e “disco de platina” para 100 mil.

Com essa recessão as gravadoras, por exemplo, passaram a personalizar os contratos e as plataformas. Não dá mais para definir o sucesso de um artista pelo tanto que ele vende em CDs, mas, sim, em como ele será explorado: vendas de mp3 ou outros formatos de audio digital voltados para dispositivos móveis e celulares. É um mercado novo e inexplorado pelas gravadoras. Em 2008, por exemplo, o CD ainda era o campeão das vendas de música, correspondendo a uma fatia de 61% de todas as vendas, seguido do DVD com 27% e os arquivos digitais por apenas 12% do total de acordo com os dados da ABPD.

Em falar nisso, o grande erro das gravadoras para enfrentar esse momento, no entanto, foi de excluir ou arrumar substitutos para um formato de vendas, quando, na verdade, o comportamento do consumidor mudou. Vários aspectos, por exemplo, apontam que todas as mídias são complementares e variam de acordo com a realidade socioeconomica do Brasil e as políticas de inclusão digital e expansão da banda larga. Para o futuro, as expectativas são de maiores lucros voltados para a exploração digital – como já acontece em outros países – e o barateamento dos CDs.

De qualquer forma não devemos encarar essa turbulência como um motivo de pessimismo, principalmente as gravadoras. Devemos destacar que o mercado mudou muito, não se define mais pelo número de cópias vendidas. Hoje, ele está intimamente ligado às características dos contratos que firmam com os artistas. A rentabilidade não é mais definida pelo número de cópias físicas vendidas. Há uma maior rentabilidade com vendas menores, diversificação de investimentos, além do crescimento do mercado digital. Essa, digamos, seja a adaptação ao novo mercado. Mercado esse que está encontrando seu rumo e em breve voltará ao patamar merecido.


Marcus Vinicius Jacobson

Jornalista e diretor do MVHP - Portal de Cifras
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